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Anais DCIMA Final

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Página 324<br />

terrível e inquietante na pré-história do homem do que sua mnemotécnica.<br />

“Grava-se algo a fogo, para que fique na memória: apenas o que não cessa de<br />

causar dor fica na memória (NIETZSCHE, p. 50, 1998)<br />

Os estudos sobre memória social na luta pela terra guardam uma relação com a violência e com a<br />

negação da verdade do passado. A violência vem sendo utilizada como instrumento de opressão e intervenção<br />

do Estado no processo de colonização da região sul e sudeste do Pará. A memória da morte perpassa a memória<br />

individual dos sujeitos e das comunidades, criando sentidos que demandam reflexões e aprofundamento<br />

através do campo da pesquisa científica.<br />

A relação entre memória, escrita e morte, alude a reflexão sobre a emergência de pesquisas sobre a<br />

verdade do passado e a frequente atribuição dada aos historiadores em apresentar essa verdade. Gagnebin<br />

(2009) ressalta o papel do historiador quanto a tarefa de busca de emergência da verdade não dogmática. Este<br />

é um ponto crucial nas narrativas da região visto que a emolduração da verdade oficial presente na história<br />

política do sul e sudeste do Pará, sedimentada em documentos, jornais, nomes de ruas, dentre outros, não só<br />

oculta a verdade não oficial, como também é uma tentativa de apagar a memória dos que resistiram<br />

politicamente à opressão e domínio de suas vidas e das lutas coletivas por melhores condições de vida.<br />

Muitos processos de ocultação da verdade emergiram historicamente no espaço conhecido com sul e<br />

sudeste do Pará. A negação da justiça nos casos de assassinatos no campo, em que os crimes, mesmo com<br />

todas as evidências e provas, passaram anos sem que houvesse por parte do Estado Brasileiro a ação de julgar<br />

e condenar os responsáveis. A invisibilidade dos sujeitos enquanto pessoas com direito a vida e por sua vez, a<br />

justiça, apontam para a negação da verdade. Como exemplo é possível mencionar o caso notório da Chacina<br />

de Goianésia, em 1987, em foram assassinados de uma só vez o trabalhador rural Sebastião Pereira de Souza<br />

e seu filho Clésio, de apenas três anos; Maria de Jesus, viúva do trabalhador e mãe da criança assassinada ao<br />

lado de seu pai, após ter sido espancada pelos assassinos, em meio ao luto dos familiares, tentou o suicídio. O<br />

processo judicial desapareceu da comarca de origem e com ele as informações que levariam ao julgamento e<br />

a condenação dos mandantes do crime, mostrando a face da ocultação e negação da verdade empreendida pela<br />

dominação, poder e atrelamento do estado às forças sociais, políticas e econômicas que regiam as relações na<br />

região (CAVALCANTI, 2004).<br />

A negação da verdade também ocorreu em relação aos movimentos de resistência surgidos na época<br />

da ditadura militar. Como exemplo, podemos identificar o que ficou conhecido por Guerrilha do Araguaia,<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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