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Anais DCIMA Final

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Página 522<br />

É importante, entretanto, destacar que ao longo do texto Moura (1992) faz emprego de verbos no<br />

passado para tratar dos quilombos, como pode ser visto nos excerto a seguir:<br />

O quilombo aparece, assim, como aquele módulo de resistência mais<br />

representativo (quer pela sua quantidade, quer pela sua continuidade histórica)<br />

que existiu (MOURA, 1992, p. 23).<br />

Esse modo de referência faz parecer que o quilombo é um fenômeno longínquo no tempo, como se<br />

não existisse mais na época em que ele está escrevendo seu texto, como se observa no outro excerto que segue:<br />

Os quilombos eram foco de concentração demográfica e, ao mesmo tempo, fator<br />

de mobilidade social horizontal permanente (MOURA, 1992, p. 31).<br />

Nos capítulos mais avançados, Moura (1992) pouco trata do quilombo e quando o faz é sempre falando<br />

de seu processo de formação. No capítulo 7, que trata das lutas dos negros por cidadania no século XX, o autor<br />

não trata das lutas dos quilombolas por reconhecimento social e cultural, nem das lutas pela titulação das suas<br />

terras, que culminou na organização de diversas associações e entidades sindicais, bem como com a inclusão<br />

do artigo 68 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), na Constituição Federal de 1988.<br />

Em suma, o quilombo é apagado da história do negro brasileiro no século XX.<br />

Assim, o retorno à origem dos quilombos é uma tônica no texto de Moura (1992), pois, segundo<br />

Foucault (2013b), a origem é sempre cercada de uma solenidade. Mas é necessário rir de tais solenidades.<br />

A historiografia é um domínio do saber ligado à instituição universidade. Com isso, os fatos históricos<br />

são contados por meio de uma lente própria a essa instituição à qual o sujeito que a narra pertence. A concepção<br />

de quilombo e de sujeito quilombola que daí decorre é controlada por mecanismos de poder próprios a essa<br />

instituição. Ao conceber o quilombo unicamente como um lugar de sujeitos fugidos, capta-se a identidade do<br />

sujeito quilombola como um fato histórico passado ligado a fugas, e não como algo da atualidade, além de<br />

desconsiderar as demais formas de constituição dos quilombos.<br />

3. Genealogia e história de um saber dominado<br />

Antes de realizarmos a análise das duas letras de música, referir-nos-emos aos procedimentos<br />

utilizados por Foucault (2003) para analisar um conjunto de registros de internamentos. Esse autor estabeleceu<br />

como critérios a existência real das personagens retratadas, a brevidade do relato e a obscuridade de suas<br />

existências, dentre outros.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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