Anais DCIMA Final

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[...] O grande acontecimento de ontem, que ainda hoje se festeja, que se
festejará sempre, por causa de sua alta importância político-social, este
acontecimento me veio encher de esperanças no peito. A liberdade dos negros
vem contribuir para o desenvolvimento desta terra infeliz, e dar-lhes novas
formas, novos elementos, novos aspectos... Esta fidalguia barata virá caindo
aos poucos e o princípio de confraternidade virá acabar com estas supostas e
falsas superioridades do ser, que tem sido um dos mais vis preconceitos da nossa
existência política. (MORAES, 2000, p.67, grifos nossos).
Assim, é evidente que a vontade de mudança, fomentada pelo “grande acontecimento” é o motor da
transformação de São Luís e sua gente. Nos dias que se sucederiam a esse fato, o que fica aos olhos dos
marginalizados é a sensação de que todos viveriam a igualdade conclamada.
3. O despertar da cidade: o retrato da decadência de São Luís
Após a noite que embalaria os sonhos e expectativas da população, a cidade de esperanças, traria à
tona um dos retratos que, no plano ficcional e na história, ilustram a São Luís do final do século XIX: a cidade
da decadência econômica e dos princípios morais de parte significativa de seus moradores.
Sábado, duas horas da tarde. Nota-se algum movimento no bairro comercial, o qual não é característico
de vida próspera e feliz, mas clara denúncia de decadência e estagnação de elementos essenciais à atividade
do trabalho. (MORAES, 2000, p. 54).
Essa “clara denúncia de decadência e estagnação” é um dos aspectos de maior problematização do
romance, uma vez que este, ao mostrar a quebra de expectativa esperada no início do enredo, apresenta o
marasmo quanto às práticas comerciais em uma região historicamente conhecida: a Praia Grande e seus
entornos.
As dificuldades econômicas, pois, são colocadas como constantes na vida da maioria dos
personagens, sobretudo dos negros recém-libertos.
Conforme assinalado anteriormente, à medida que houve a institucionalização do término da
escravidão, pensava-se que haveria uma reconfiguração quanto ao espaço ocupado pelos negros na sociedade.
Esse lugar, proposto na obra, não foi de centralidade, de inclusão, mas sim de margeamento. Esperava-se que
a abrangência dos direitos sociais e políticos amparassem efetivamente os negros, assim como toda cidade
passasse por uma efusiva renovação.
A respeito disso, observamos mais uma vez alusões a fatos históricos como sinônimos de
novos contornos para a cidade de São Luís: a Lei Áurea e a Proclamação da República. Protagonizando uma
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