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Anais DCIMA Final

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Página 326<br />

As estratégias de aniquilação de rastros tornaram-se práticas comuns tanto na escrita histórica oficial,<br />

quanto na eliminação de provas que constituíssem o surgimento de uma verdade contra hegemônica, seja das<br />

resistências sociais organizadas, seja a verdade dos sujeitos que territorializavam-se no sul e sudeste paraense.<br />

A relação entre a circulação social das práticas de violência e a constituição de subjetividades nesses<br />

cenários de “reparações” institucionais nos orienta para uma pesquisa voltada para aquilo que Gagnebin define<br />

por “decifrar os rastros e recolher os restos” (2009, p. 118), trazendo à tona as narrativas ofuscadas, os corpos<br />

torturados, enterrados, o sangue, a poeira, a lama, a terra e os ideias dos que aqui viveram e sonharam como<br />

muitos outros que também ruíram na luta pela terra.<br />

Esses processos de subjetivações produzidos no contexto de luta pela terra no sul e sudeste paraense<br />

remetem ao conceito de subjetividade de Guatarri e Rolnik:<br />

A subjetividade está em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos:<br />

ela é essencialmente social, e assumida e vivida por indivíduos em suas<br />

existências particulares (p.42, 2010).<br />

Assim, entende-se subjetividade como uma construção social e comunitária, permeadas por relações<br />

e vivências partilhadas, que, ao serem pensadas e significadas comunitariamente através da experiência,<br />

produzem um modo de ser e viver, em constante relação com a dimensão histórica e social.<br />

A memória da Chacina da Fazenda Ubá requer o alcance de reflexões que tocam o luto e a<br />

subjetividade de pessoas em relações sociais na produção de suas vidas. Nesse sentido, urge vivificar o rastro<br />

mnemônico presente no luto, não como lamento passivo, desespero, e sim como aquilo que Benjamin, na sexta<br />

Tese “Sobre o conceito de História” (2012, p. 12), chama de “atiçar o passado com a centelha da esperança”,<br />

na medida em que “nem os mortos estarão seguros se o inimigo vencer”.<br />

A atuação camponesa constituiu resistência ao padrão de desenvolvimento imposto a partir dos<br />

interesses do capital. A migração de pessoas com interesses de constituir uma oportunidade de trabalho e ganho<br />

de dinheiro para manutenção familiar culminaram em muitos conflitos de interesses e práticas de violência<br />

contra os mais pobres, com anuência do Estado e participação direta do mesmo na opressão dos movimentos<br />

sociais, como exemplo do Massacre de Eldorado dos Carajás, com a morte de 19 trabalhadores rurais sem<br />

terra.<br />

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