23.01.2018 Views

Anais DCIMA Final

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Página 819<br />

Na ilustração a ideia de cavalo se constrói na transformação da fisionomia do presidente, em que as<br />

“distorções” que segue a imagem acontecem através de aspectos da personalidade que vão construindo sentido<br />

na charge, tendendo para uma sátira, em que os defeitos são destacados, não apenas como pequenos defeitos,<br />

mas como uma característica.<br />

O presidente João Batista Figueiredo inspirou os cartunistas, a fazerem relação de sua imagem com o<br />

cavalo, com a presença do cavalo junto dele ou ainda a elementos que remetem ao cavalo, como ferraduras.<br />

Vimos também, que há discursos que vão sendo retomados e reforçados e outros discursos que vão sendo<br />

construídos por meio de determinados acontecimentos. Essa relação do presidente com os cavalos se deve ao<br />

fato de que em 1978, depois que o presidente Ernesto Geisel indicou o general João Baptista Figueiredo para<br />

ser seu sucessor, o governo iniciou uma campanha para popularizar a imagem do chefe do Serviço Nacional<br />

de Informações, chamado de “João do Povo”. Mesmo depois de algumas transformações fisionômicas e<br />

comportamentais que o general se submeteu ao assumir a presidência, como a troca dos óculos escuros<br />

característico de chefe do serviço secreto (SNI) pelo tipo claros, de intelectual. (KUCINSCKI, 1982, p. 84)<br />

Porém as iniciativas de construir a imagem de um presidente próximo ao povo e popular fracassaram,<br />

a personalidade do general não correspondia com o slogan criado para ele. Em agosto daquele ano, ao conceder<br />

uma entrevista sobre seu grande apreço pelos cavalos, um repórter perguntou se o futuro presidente gostava<br />

do “cheiro do povo”. Figueiredo respondeu: “O cheirinho do cavalo é melhor (do que o do povo)”.<br />

A charge 2, cuja temática refere-se a mais um dos casuísmos do governo, a incorporação, segue junto<br />

com do antigo slogan da ditadura (Brasil ame-o ou deixe-o).<br />

O “ame-a ou deixe-a” (incorporação) é alusão clara ao slogan ideológico do governo Médici – como<br />

lembrou um dos personagens que observam o reclame da incorporação. Assim o componente linguístico da<br />

charge está na ordem do que já foi dito, a intertextualidade ocorre ao relacionarmos o enunciado com o slogan<br />

ufanista dos anos mais repressivos da ditadura. Identificando também a paráfrase, carregada com traços<br />

ideológicos dos mesmos traços do slogan anterior.<br />

A charge de Dodó Macedo (3) destaca o insignificante avanço que caracterizava a lei de anistia,<br />

representada pela imagem de uma gaiola de um pássaro aberta (possivelmente uma pomba branca, símbolo da<br />

paz e da liberdade). Conceder liberdade a um pássaro como gesto simbólico pode ser significativo, mas na<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!