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Anais DCIMA Final

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Página 453<br />

Na concepção foucaultiana, o discurso constitui-se como prática, inscrito em campos de saberes e<br />

movimentado na malha da história cotidiana. A materialização da prática discursiva se dá pela construção de<br />

enunciados, porém, longe de se limitar às fronteiras da materialidade linguística. O enunciado, assim,<br />

singulariza-se como acontecimento discursivo, a partir do qual identificamos regularidades que caracterizam<br />

relações discursivas empreendidas por condições de possibilidade.<br />

[...] enunciado é sempre um acontecimento que nem a língua e nem o sentido<br />

podem esgotar por inteiro. Acontecimento estranho, é certo: primeiro porque se<br />

encontra ligado, por um lado, a um gesto de escrita ou à articulação de uma<br />

palavra, mas, por outro, abre a si próprio uma existência remanescente no campo<br />

de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros, e de não<br />

importa que forma de registro; em seguida, porque é único como todo o<br />

acontecimento, ao mesmo tempo que se oferece à repetição, à transformação, à<br />

reactivação; enfim, porque está ligado não só a situações que o provocam, e a<br />

consequências que incita, mas ao mesmo tempo, e segundo uma modalidade<br />

completamente diferente, a enunciados que o precedem e que o seguem.<br />

(FOUCAULT, 2014a, p. 64)<br />

Na perspectiva de Foucault (2014a), podemos afirmar que as práticas discursivas sobre o TIL<br />

estruturam-se nos moldes de regras que estabelecem formas de dizibilidade, possibilitando que a análise<br />

discursiva caminhe em diferentes direções: permanência, ativação da memória, reformulação e tantas outras<br />

estratégias aplicáveis aos discursos. Assim, ao direcionar nosso olhar para o arquivo somos levados para os<br />

regimes de enunciabilidade, para os modos de dizer, o que nos permite observar o diálogo entre passado e<br />

presente por meio de ditos que se movimentam nos trilhos da história.<br />

As regras que autorizam os modos de dizer sobre o TIL na década de 90 não são as mesmas de hoje.<br />

Nos meandros da história, os discursos respondem a formas de dizibilidades diferenciadas, produzindo, assim,<br />

novos sentidos. Nesse ponto, retomamos a ideia do trajeto temático (GUILHAUMAU; MALDIDIER, 1997),<br />

no qual velhos enunciados são ressignificados de maneira que o novo constrói-se na repetição do já-dito.<br />

Nessa direção, vejamos como os documentos oficiais discursivizam o tradutor-intérprete de libras, sob<br />

que condições sociais e históricas se dá a construção discursiva do TIL, considerando o processo da inclusão<br />

no Brasil. Para tanto, selecionamos séries enunciativas a partir de documentos da década de 90 até o ano de<br />

2015. Porém, dado nosso suporte teórico ancorado na proposta arquegenealógica, esse recorte não se dá tão<br />

rígido quanto aparenta ser, conduzindo-nos a diálogos com outros períodos, mesmo que brevemente.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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