Anais DCIMA Final

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monstro, isso não acontece. O que encontramos é uma adolescente confortável com sua identidade, que narra
sua história com naturalidade
Apesar de ser uma narrativa inserida em uma versão mais moderna do gênero gótico, o jogo ainda
conserva elementos do gótico clássico. Com o uso das convenções típicas do gótico – aprisionamento,
instigação do medo como metáfora para anseios da sociedade e representação do outro – para desenvolver sua
narrativa.
Mais do que o uso de lugares comuns do gótico, também há no jogo alusões diretas à textos específicos
da literatura gótica, tais como as referências à Jane Eyre (2006). Estes elementos de intertextualidade serão
explorados mais profundamente a seguir.
3. Elementos de intertextualidade entre Jane Eyre e Gone Home
Escrito em 1847 por Charlotte Brontë, o romance realista Jane Eyre (2006) possui muitos elementos
do gênero gótico. A história é narrada pela própria Jane, órfã de pai e mãe, e começa ainda na infância da
protagonista. Com mais de 500 páginas, o livro é uma espécie de autobiografia fictícia de sua heroína
homônima, acompanhando-a até sua vida adulta.
Desde sua infância, Jane revela uma personalidade rebelde, que não aceita os limites impostos às
mulheres de seu período e a sua condição financeira. Por ter perdido os pais, Jane vive na casa de uma tia, que
faz questão de reprimir a rebeldia da sobrinha com castigos e punições. O mais traumatizante para Jane –
relembrado pela moça até a vida adulta – é o seu aprisionamento no quarto vermelho, aposento pertencente ao
seu falecido tio, o qual diziam que assombrava o lugar.
Mais velha, foi enviada para um internato, onde estudou e trabalhou até ser contratada para ser
professora da protegida de Edward Rochester, proprietário de Thornfield Hall. No local, fez amizades e
eventualmente iniciou um romance com patrão. Porém, nas vésperas do casamento, descobre algo que a faz
fugir do local: Rochester já era casado com uma moça jamaicana, Bertha, que perdeu a sanidade. Ele a escondia
do mundo, trancando-a no sótão da casa.
A personagem Bertha carrega elementos do gótico em sua construção, como aponta Smith:
Bertha functions as the Gothic element within the narrative to the degree that she
is associated with racial otherness, insanity, and sexual promiscuity. (SMITH,
2007, p.04)
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