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Anais DCIMA Final

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Página 288<br />

3. Discursos sobre a aquisição de terras<br />

A versão dos gaúchos sobre a aquisição das terras em Saco das Almas aponta para um processo de<br />

compra legal em cartório. Em contrapartida, com base na história oral, é possível afirmar que, os gaúchos<br />

teriam se utilizado de diversas estratégias, legais e ilegais.<br />

Localizadas no meio da mata, eram terras férteis, onde podia-se praticar a caça, o plantio das roças, a<br />

criação do gado e a coleta de frutas. A extração desses produtos, complementava o sistema produtivo local. A<br />

atividade extrativa era prioritariamente feminina. Todavia, foi por meio do bonito discurso de desenvolvimento<br />

e modernização anunciados, que os gaúchos foram adquirindo, cada vez mais terras, usando documentos<br />

falsos, ameaças e subornos. Relatos apontam que, tentaram, inclusive, “convencer um morador a mudar seu<br />

sobrenome, para que, no futuro, ele não conseguisse comprovar sua relação com o território”.<br />

Na época, muitos advogados foram procurados, inclusive em cidades vizinhas. Mas, cada um, depois<br />

de receber uma parte do pagamento e analisar os documentos, desapareciam sem justificativa, ao perceber que<br />

teria que enfrentar pessoas muito poderosas.<br />

Em 1986, um advogado de Chapadinha entrou na justiça com uma ação contra os fazendeiros. Ele<br />

argumentava que os descendentes de Timóteo, residentes na área, eram os legítimos donos de um lote que<br />

estava sendo reivindicado. Mas, no dia da audiência, esse advogado também desapareceu. Os fazendeiros se<br />

defenderam dizendo que já moravam ali há mais de dez anos. Um deles apresentou cópias de escrituras de<br />

outras terras, declarando serem referentes ao território quilombola.<br />

Em 1990, o juiz arquivou a ação, considerando que os argumentos apresentados pelo advogado dos<br />

quilombolas não eram válidos, e que documentos eram ilegíveis, não comprovando o domínio sobre a área<br />

pedida e nem descrevendo adequadamente o imóvel. Depois disso, os documentos originais dos quilombolas<br />

reclamantes, desapareceram do processo e do cartório de Brejo.<br />

Os gaúchos participavam das festas, mantendo permanente contato com as comunidades, jogavam e<br />

patrocinavam os jogos de futebol, oferecendo ajuda para comprar remédios ou levar algum doente à cidade,<br />

emprestando dinheiro, apadrinhando as crianças.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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