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Anais DCIMA Final

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Página 348<br />

O mapa acima foi elaborado pelo etnólogo alemão Curt Nimuendaju nos anos de 1940. Nimuendaju<br />

trabalhou mapeando as sociedades indígenas no território brasileiro e morreu em uma aldeia indígena no Alto<br />

Rio Negro, no Amazonas.<br />

A imagem que inserimos é um recorte do Mapa Etno-Histórico do Brasil, publicado em 1944. Fizemos<br />

um recorte no que poderia ser tido como o traçado da rodovia Belém-Brasília e a partir disso podemos inferir<br />

quais sociedades foram diretamente afetadas pela construção da estrada.<br />

Sabendo que havia povos indígenas ao longo do traçado da Belém-Brasília, é inevitável que estas<br />

sociedades não tenham entrado em contato com os homens que trabalharam na abertura da estrada. E, levando<br />

em consideração o histórico dos processos de contato entre indígenas e invasores, é inevitável também não<br />

pensar no quanto esse contato foi danoso as sociedades indígenas.<br />

A professora Ivânia Neves, em sua tese de doutorado, recupera uma narrativa do povo Apinajé, em<br />

que estes contam como teria surgido o homem branco para a sociedade Apinajé:<br />

Vanmegapraná. Uma rapariga pública de nome Nyimõgo ficou prenhe. Um dia<br />

quando se banhava no riacho, o seu filho saiu-lhe do ventre, nadou, transformado<br />

em paca, brincando ao redor da mãe e voltou ao seu lugar primitivo. Fez isto por<br />

um longo tempo, até que, finalmente, não mais voltou para o ventre materno.<br />

Quando Nyimõgo ia com as outras mulheres cavar batatas na roça, ela deixara a criancinha na sombra<br />

de uma árvore. De repente as mulheres observaram de longe como o pequeno Vanmegapraná se punha de pé,<br />

mas quando chegavam junto dele, já havia se transformado outra vez na criancinha pequena e fraca. Quando<br />

Nyimõgo ia buscar água, ela levava o menino sentado no cinto, mas assim que saia da aldeia, o menino crescia<br />

e corria ao seu lado. Na volta ele se transformava outra vez em criancinha mole, carregada no cinto. O irmão<br />

de Nyimõgo tinha ódio ao menino e exigiu dela que o matasse, mas não quis fazê-lo porque o menino era<br />

muito bonito. Então o irmão fez um buraco e enterrou Vanmegapraná vivo, mas à meia noite ele se livrou da<br />

sepultura, indo ter com a mãe para mamar. Na manhã seguinte o irmão de Nyimõgo, vendo-a com a criança<br />

sobre os braços perguntou como era possível aquilo e ela contou que o menino tinha voltado para si, só. Então,<br />

levou-a com o filho a beira de um abismo, arrancou-lhe o menino e por mais que a avó deste chorasse e pedisse,<br />

arremessou-o pelo telhado abaixo. Vanmegapraná, porém, transformou-se numa folha seca, descendo devagar,<br />

em espirais,para o chão. O irmão de Nyimõgo procurou o pé do telhado até que achou a folha, queimando-a<br />

numa fogueira distante dos olhos da avó e da mãe, que choravam muito. Todos acreditavam que Vanmegapraná<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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