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Anais DCIMA Final

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Página 616<br />

tocar caixa:<br />

Tinha muita vontade de tocar caixa. São cinco anos que eu toco para o divino de<br />

Alcântara. Eu já era caixeira de Santa Tereza D’Ávila, lá na comunidade<br />

quilombola do Itamatatiua, mas tive que me afastar para trabalhar, precisava<br />

trabalhar. Aí me aposentei e agora me dedico a ser caixeira do Divino. É uma<br />

gratidão enorme poder ter essa função e continuar com essa tradição. 7<br />

E Dona Romana, lavradora e moradora da comunidade do Cajual. Ela relata sobre como aprendeu a<br />

Aprendi a tocar caixa há alguns anos com a antiga caixeira Margarida. Hoje já<br />

falecida. Ficava observando como ela fazia e ia fazendo também. Sempre tive<br />

vontade de aprender e ela foi fundamental para isso com toda a sua experiência<br />

e dedicação ao Divino. 8<br />

Segundo o Mestre sala do Império há 25 anos, seu Antônio Barbosa, “uma das funções das caixeiras<br />

na festa é louvar ao Divino Espírito Santo através de seus cantos nas alvoradas”. 9<br />

Para seu Moarcir Brito, as caixeiras têm uma representação significativa na festa:<br />

Na época dos escravos, senhores tinha um pelouro onde era castigado os<br />

escravos. Tinha os escravos... então veja bem... as caixeiras e o mastro<br />

representam entre essas duas coisas, também na festa e não é só isso... O que que<br />

acontece, o mastro representa o pelouro. Nós temo a quinta-feira da ascensão –<br />

dia 24, passeata do mastro, dia 25, alvorada... missa solene em seguida o cortejo<br />

e a prisão dos festeiros. O que que é essa prisão? É justamente relembrando a<br />

parte dos senhores, dos escravos. Nós saímos prendendo todos os mordomos e<br />

levamos para debaixo do mastro – que representa o pelouro. Então o que que<br />

acontece? Eles são presos lá e são soltos mediantes uma prenda que é um licor,<br />

uma coisa que traz. As caixeiras, além delas serem animadoras da festa, elas<br />

representam aqui os escravos que quando chegava a fim de cada mês, eles se<br />

reuniam na senzala para cantar, para extravasar um pouco do sofrimento... essa<br />

é a parte das caixeiras. E dentro da festa, elas são as animadoras da festa para<br />

cantar para o divino, para salvar o divino, salvar os mordomos, salvar o<br />

império. 10<br />

Essas mulheres maduras, idosas, afrodescendentes são guardadoras de conhecimentos inerentes ao<br />

culto, os quais são repassados por gerações através da oralidade, bem como a partir da dedicação, da presença<br />

marcante na festa, elas são as responsáveis pela aproximação com o divino através dos seus toques e caixas,<br />

promovendo assim a promoção da disseminação da tradição dessa função primordial na festa.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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