Alfabetização, Letramento - Inep
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Qual é a idéia de organização do tempo<br />
em sala de aula presente na narrativa da<br />
professora? A professora, ao se referir a<br />
seus momentos de leitura para as<br />
crianças, diz organizá-los de modo a<br />
garantir a continuidade e a intensidade<br />
do trabalho: “Era uma história que eu<br />
contei em partes porque era longa” e<br />
“O livro também era longo, durou sei<br />
lá quantos dias, mas teve essa<br />
brincadeira”.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Tomando como base a fala dessa professora<br />
percebemos que ela não tem a preocupação de escolher<br />
uma história curta e rápida que seja compatível com o<br />
tempo delimitado pelo período da aula. Ela afasta-se da<br />
fragmentação do tempo linear – um dia após o outro —<br />
mantendo um fluxo, uma continuidade que é dada pelo<br />
livro e pela intensidade da escuta compartilhada da<br />
história. Não é o tamanho da história que se encaixa no<br />
tempo disponível, mas o contrário: o tempo é usado e<br />
gasto conforme o desenrolar da atividade de ouvir as<br />
histórias.<br />
Você verá que...<br />
A brincadeira<br />
também tem lugar na<br />
escola, e ela também<br />
merece ser planejada.<br />
É o que veremos no<br />
Fascículo 5 – “O lúdico<br />
na sala de aula:<br />
projetos e jogos”.<br />
A professora também menciona: “Esse livro foi muito interessante, forte, mobilizou um<br />
monte de emoção, tinha hora que eu tinha vontade de chorar”. No momento em que lê<br />
para as crianças, ela vive o momento com intensidade. O momento da leitura em sala de aula é<br />
para ela também um momento de fruição, ou seja, de prazer.<br />
Sabemos que a leitura como fruição ainda é vista, na escola, como um tempo desperdiçado, já<br />
que o objetivo predominante da leitura é instrutivo, ligando-se à realização de tarefas e de<br />
exercícios.<br />
Isso acontece porque o modo como entendemos o tempo na escola e fora dela, apesar de nos<br />
parecer natural, está diretamente ligado às condições históricas. Ou seja, os modos de viver,<br />
marcar, usar e avaliar o tempo variam na história e entre os povos, relacionando-se com as<br />
diferentes tecnologias a que os grupos sociais têm acesso e com o modo como o trabalho é<br />
organizado socialmente.<br />
Se considerarmos como o tempo era vivido na Idade Média, um período da história humana em<br />
que não existia o relógio, o trabalho industrial, o carro ou a televisão, teremos um exemplo de<br />
experiência do tempo diferente da nossa. Nesse período, analisam os historiadores, as formas<br />
de marcar o tempo e os usos que dele se faziam eram relacionados às atividades e às variações<br />
da natureza. As unidades de tempo eram definidas pela duração das tarefas: o tempo do preparo<br />
da terra, o tempo do cozimento de um alimento, o tempo que levava o couro para curtir ou para<br />
fiar-se um tapete, etc., e elas eram afetadas pelas condições naturais, de frio ou de calor, de<br />
luminosidade, dos períodos de chuva e de estio, do movimento das marés variando de uma<br />
estação do ano para outra.<br />
Já com o trabalho industrial e com a criação do relógio, resultantes do desenvolvimento de<br />
novos conhecimentos e de novas técnicas, o tempo passou a ser definido e medido através de<br />
unidades externas às atividades de trabalho, externas aos ciclos da natureza, externas à vida.