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Alfabetização, Letramento - Inep

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um leitor discorda ou se entusiasma com certa reportagem publicada na mídia, pode escrever<br />

uma “carta do leitor”, expressando sua opinião, com chances de vê-la veiculada no respectivo<br />

jornal ou revista. Se uma pessoa for comemorar seu aniversário, pode redigir um convite e<br />

distribuí-lo entre seus amigos. E assim por diante... Em cada uma das situações aqui<br />

apresentadas, o tema, o gênero textual, o leitor presumido, o suporte, o contexto social de<br />

circulação, o objetivo da produção é distinto. E o escritor letrado, envolvido com as práticas<br />

sociais de escrita, não terá maiores dificuldades em passar de um gênero para outro, em mudar<br />

de um registro informal para um mais formal, em considerar em sua produção o contexto<br />

sócio-histórico de circulação do texto. Isso porque, para ele, as condições de produção estão<br />

bastante claras. É provável, ainda, que o escritor revise e reescreva seus textos várias vezes, até<br />

chegar a uma formulação que julgue adequada e com a qual se dê por satisfeito.<br />

Não é o que ocorre, muitas vezes, na rotina da escola. Historicamente, a “redação” tem sido<br />

solicitada aos alunos nos livros didáticos com base na indicação de um tema ou de um tipo<br />

textual (narrativo, descritivo, argumentativo, injuntivo) a ser desenvolvido. Nesses casos, a<br />

orientação principal dada aos aprendizes é “escreva um texto”, desconsiderando-se<br />

inteiramente que a atividade de escrita precisa fazer sentido, caso contrário transforma-se num<br />

simples exercício a ser feito “porque o professor ou professora mandou”. Outro aspecto<br />

freqüentemente deixado de lado pelo livro didático é que a elaboração de um texto necessita<br />

ser aprendida e, em decorrência, ensinada de modo sistemático, tendo em vista as<br />

características estruturais e sócio-discursivas do gênero textual focalizado. A postura rotineira<br />

da escola, reproduzida pelos LDLP ao longo da década de noventa, associa-se à “ideologia do<br />

dom”, no entendimento de que o aluno possuiria aptidões inatas (“maior ou menor jeito pra<br />

escrever”) e, portanto, saberia “naturalmente” e logo na primeira versão, redigir corretamente o<br />

texto exigido. Para isso, bastaria que dominasse as regras gramaticais, de pontuação e de<br />

acentuação, tidas como suficientes para o “escrever bem e correto”.<br />

Vejamos dois exercícios com a escrita, apresentados no exemplo 2 (coleção Eu gosto de<br />

comunicação, PASSOS & SILVA, s/d, v.4, p. 11) e no exemplo 3 (coleção Festa das palavras,<br />

AZEVEDO, 1992, v. 4, p. 38), que adotavam esse tipo de encaminhamento.<br />

Exemplo 2<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Pela proposta do exemplo 2, o aluno deveria desenvolver uma história à vista<br />

de gravuras, sem ter recebido qualquer indicação a respeito das condições de<br />

produção do texto. As poucas orientações fornecidas eram bastante<br />

características da cultura escolar e, até certo ponto, enigmáticas. Como se<br />

pode ler no enunciado, a primeira requeria um texto com “começo, meio e<br />

fim”, sem que os elementos integrantes do suposto gênero textual pretendido<br />

(narrativa ficcional) tivessem sido debatidos. Assim, a recomendação (que<br />

talvez tivesse por meta obter do aluno um texto coerente), caía no vazio. A<br />

segunda orientação do exemplo enfatizava a inserção de ‘cada assunto’ num<br />

parágrafo, mas não especificava, mais uma vez, o que estava implicado na<br />

concepção de ‘assunto’ nem de parágrafo. A última recomendava a escrita de<br />

um texto com a pontuação adequada, aspecto que não tinha sido trabalhado<br />

antes do encaminhamento dessa atividade. Contribuía, ainda, para a<br />

descontextualização, o fato de o tema do texto de abertura da unidade não ter<br />

sido relacionado com o tema solicitado na redação. Dessa forma, o aluno não<br />

recebia qualquer ajuda nem para a elaboração temática nem para a<br />

construção da forma composicional do texto e só podia contar, como num<br />

passe de mágica, com sua inventividade.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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