Alfabetização, Letramento - Inep
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Mas nem sempre tem havido sintonia entre as orientações dadas pelos Guias do PNLD e as<br />
escolhas feitas nas redes públicas de ensino. Cabe então refletir: Por que as escolas desprezam<br />
as classificações mais altas dadas ao livro didático?<br />
Mesmo reconhecendo uma evolução no padrão de qualidade dos livros didáticos produzidos<br />
atualmente no país, as pesquisas mais recentes sobre a escolha e o uso desses novos livros de<br />
alfabetização têm revelado que a preferência dos professores e das professoras ainda continua<br />
sendo bastante conservadora, pois o processo de escolha tem recaído na seleção de obras que<br />
obtêm a menor classificação nas avaliações do PNLD (BATISTA e VAL, 2004). Ou seja, seis<br />
em cada dez livros didáticos de 1ª a 4ª série, escolhidos pelos professores e professoras para<br />
uso na rede pública nos últimos anos, receberam apenas uma estrela no guia do MEC. Isso<br />
significa que, apesar de estarem dentro dos padrões mínimos de qualidade, condição<br />
indispensável para a inclusão na lista de compras, essas obras são recomendadas com ressalvas<br />
pelos especialistas que fizeram a avaliação.<br />
Um outro aspecto importante sobre o processo de escolha de livros didáticos de <strong>Alfabetização</strong> e<br />
de Língua Portuguesa, que merece ser comentado, refere-se ao movimento de adesão e<br />
incorporação dos pressupostos sociointeracionista e do letramento, presentes nos livros<br />
Recomendados, às práticas das escolas. Os dados nacionais sobre a escolha de livros didáticos<br />
também têm revelado que, se em um primeiro momento algumas escolas tendem a escolher os<br />
livros mais representativos desse novo corpus de conhecimentos sobre ensino da língua escrita,<br />
em um segundo momento tendem a substituí-los por livros que obtiveram a menor<br />
classificação. Ou seja, verifica-se que os livros didáticos considerados de melhor qualidade<br />
chegam a ser escolhidos por grupos de escolas, mas, após o primeiro ano de uso, parte<br />
significativa dos profissionais decide substituí-los por outros organizados com propostas de<br />
alfabetização ou didática da língua mais tradicionais. Dito de outra forma, mesmo em contextos<br />
escolares de mudanças pedagógicas, continua predominando o retorno às práticas que fazem<br />
parte da tradição escolar.<br />
A realidade desses fatos nos leva a indagar quais seriam as razões para essa tendência de<br />
escolha e uso de livros didáticos das escolas: teria predominado a força mercadológica das<br />
editoras? A explicação estaria na precariedade da formação dos professores e professoras, que<br />
os tornaria temerosos de enfrentar livros mais atualizados, “avançados”, considerados por eles<br />
como além de suas capacidades técnicas? Ou a explicação estaria nas propostas dos livros, que<br />
se distanciam das expectativas dos professores e professoras?<br />
Podemos concluir com esses dados que a questão da qualidade do livro didático é muito mais<br />
complexa do que tem sido considerada. Não é simplesmente uma questão de excluir do<br />
mercado os livros de pior qualidade, também não é simplesmente uma questão de classificar os<br />
livros de melhor qualidade e fazer chegar essa classificação aos professores e professoras. Há<br />
toda uma história por detrás da autoria, da edição, da comercialização do livro didático; há toda<br />
uma história por detrás da escola e dos professores e professoras que temos hoje no Brasil.<br />
Precisamos refletir sobre as relações existentes entre produção, distribuição e uso do livro<br />
didático no país e o conjunto de relações que governam a sociedade e influenciam ou mesmo<br />
determinam as estruturas e os processos educacionais. Ou seja, nem sempre as decisões sobre o<br />
livro didático tomadas no campo das políticas educacionais e no campo editorial representam<br />
aquilo que de fato as escolas necessitam, desejam ou utilizam em sala de aula.<br />
Alguns autores têm procurado explicar as razões dessa pouca procura dos professores e<br />
professoras por livros didáticos com a avaliação do PNLD como Recomendados com distinção<br />
ou Recomendados, argumentando que é positivo o fato de que os materiais didáticos mais<br />
apropriados para as diferentes realidades do país podem — e devem — ser diferentes. Contudo,<br />
a escolha e o uso do livro didático dependem de uma série de condições, materiais e humanas,<br />
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