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Alfabetização, Letramento - Inep

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No entanto, ao enfrentarem os exercícios rotineiros de cópia do alfabeto, sentem-se frustradas<br />

em suas expectativas, porque esse tipo de atividade é muito distante das funções comunicativas<br />

e expressivas da escrita que elas observam fora da escola.<br />

Em suas experiências com as práticas sociais da<br />

escrita elas percebem que quem lê e escreve fora da<br />

escola, o faz com alguma finalidade, como registrar<br />

idéias, documentar fatos, anotar lembretes, comunicarse<br />

com alguém, etc. Assim sendo, é difícil para as<br />

crianças enxergarem na cópia do alfabeto algo além<br />

do que ela é: o aprendizado do traçado convencional<br />

das letras. Um aprendizado necessário, mas longe de<br />

ser suficiente para alguém que deseja ler e escrever.<br />

Na falta de sentido imediato para o desejo de ler e<br />

escrever, a cópia se torna, aos olhos das crianças,<br />

perda de tempo, tarefa árdua que ocupa o tempo que<br />

poderia ser dedicado às tentativas de ler e escrever. É<br />

um tipo de investimento, que quanto mais prolongado<br />

for durante o dia escolar, mais afasta a criança das<br />

práticas sociais de escrita.<br />

Você verá que...<br />

No fascículo 1 vimos<br />

que o conceito de<br />

<strong>Letramento</strong> leva em<br />

consideração os usos<br />

das habilidades de ler<br />

e escrever em práticas<br />

sociais; portanto, em<br />

situações significativas<br />

de leitura e escrita.<br />

Nessas condições, de acordo com o depoimento apresentado, a possibilidade de aprender a<br />

escrever na escola é vivida, pela criança, como desobediência. Experimentadas escondido da<br />

professora, nas brechas que sobram do tempo investido nas cópias, as atividades de ler e de<br />

escrever tornam-se para a criança uma aventura solitária e fugaz.<br />

Relato 4<br />

“O fato de eu ler, todos os dias um livro para minha sala, tem a ver com esse meu<br />

gosto pela leitura por que, se eu não gostasse de ler, eu não faria isso. Eu fui<br />

escrever hoje uma carta com eles para a D 1 . Eu estava com as crianças<br />

escrevendo e eles tinham que contar algumas coisas que eles faziam na escola.<br />

A primeira coisa que eles lembraram foi assim: “A gente lê muita história”. Uma<br />

coisa que eu achei muito legal ter vindo deles é que eles disseram: “A gente lê”,<br />

não é a professora quem lê mas é: “A gente é quem lê”. Eles fizeram uma relação<br />

de um monte histórias que eu li, e que nem eu lembrava que tinha lido para essa<br />

turma. Para você ter idéia de como aquilo foi marcante para eles! Outro ponto: o<br />

cuidado que eles têm com o livro, por exemplo. Quando acontece o empréstimo<br />

de biblioteca, ao observar seus comportamentos em relação ao manuseio e<br />

conservação, percebo que foi uma coisa que eu passei para eles, principalmente<br />

em função do modo de me relacionar com a leitura, com os livros.”<br />

Em sua narrativa, a professora, cita alguns eventos que fazem parte da rotina de trabalho<br />

estabelecida com as crianças: a leitura coletiva em voz alta, a escrita de cartas pelas crianças na<br />

proposta de correspondência entre escolas e a ida à biblioteca.<br />

Esse modo de referir-se à presença da leitura e da escrita no cotidiano de sua sala indicia que as<br />

práticas de escrita e de leitura orientam-se pelo uso real que ambas têm na vida das pessoas.<br />

¹ Refere-se a uma professora de outra turma e escola com a qual as crianças estavam se<br />

comunicando por meio de cartas.

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