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Alfabetização, Letramento - Inep

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P – Muito bem, mas foi só você que gostou do passeio?<br />

A – Não Tia, todos gostaram muito do passeio.<br />

P – Se todos nós gostamos do passeio, vamos escrever. “Todos nós gostamos<br />

muito do passeio.”<br />

Reflexão sobre língua oral e língua escrita<br />

no processo de construção de textos coletivos<br />

Vamos agora conversar um pouco sobre o trabalho pedagógico da professora na composição<br />

desse texto coletivo. Sabemos que as crianças ainda não dominam a mecânica da escrita. Mas a<br />

professora já as está introduzindo à cultura de letramento, na medida em que as vai<br />

familiarizando com a estrutura de um texto escrito. A principal diferença entre os textos que<br />

produzimos oralmente e os textos que escrevemos é que,<br />

nos primeiros, podemos nos valer muito do apoio do<br />

contexto em que o texto está sendo produzido. Por<br />

exemplo, se um falante diz a seu ouvinte: “Chegue até Nos fascículos anteriores<br />

aqui”, seu interlocutor saberá que deve aproximar-se.<br />

observamos outras<br />

Ou então, se uma pessoa se despede falando: “Nos<br />

situações de produção<br />

vemos amanhã”, os participantes da interação sabem<br />

textual coletiva.<br />

que há uma previsão de se encontrarem no dia seguinte. Aqui, vamos discutir com<br />

Dizemos que palavras e expressões como “aqui” e<br />

mais detalhes questões<br />

“amanhã” nesses exemplos são dêiticos, isto é, para<br />

relativas à diferença<br />

interpretá-las os interagentes valem-se do contexto da<br />

entre a fala<br />

interação. Quando estamos escrevendo, não podemos<br />

e a escrita também<br />

dispor das informações contextuais porque o leitor nem<br />

nestas situações.<br />

sempre está inserido no mesmo contexto. Muitas vezes<br />

escrevemos uma coisa que vai ser lida por alguém em<br />

outro lugar, muito tempo depois. Além disso, quando estamos falando, enriquecemos nossa<br />

mensagem com gestos, expressões faciais, proximidade maior ou menor com o ouvinte, tom de<br />

voz e outros recursos. Na escrita não podemos nos valer desses recursos. Por tudo isso<br />

podemos afirmar que na interação oral dependemos muito do contexto. Como na escrita há<br />

muito menos apoio contextual, temos de ser mais precisos, tanto na escolha de palavras quanto<br />

na construção das frases, de modo a deixar a mensagem bem clara ao nosso leitor. Se alguma<br />

coisa ficar obscura ou ambígua, ou se faltarem informações, nós não estaremos lá para dar<br />

esclarecimentos ou suprir detalhes.<br />

Ao compor o texto, a professora procurou torná-lo claro e informativo: sugeriu substituir a<br />

palavra “ontem”, que, por ser um dêitico, não transmitiria uma informação precisa no texto<br />

escrito, pela referência à data do passeio; tornou clara a cadeia cronológica dos eventos<br />

narrados; ajudou os alunos a se lembrarem de detalhes; mostrou a eles que o prenome não é a<br />

forma culturalmente adequada de nos referirmos a uma personalidade histórica; encontrou com<br />

eles termos mais precisos, como “urna” e “restos mortais”. Além disso, levou-os a propor um<br />

título e um fecho, preocupando-se também em manter o ponto de vista na narrativa, que era o<br />

da primeira pessoa do plural. Com todas essas estratégias a professora estava mostrando aos<br />

alunos que existem diferenças, culturalmente definidas, entre os modos de falar e os modos de<br />

escrever.

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