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Alfabetização, Letramento - Inep

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Mais uma vez a história nos ensina que talvez fosse bastante prudente perguntar à própria<br />

criança o que ela acha do assunto. Provavelmente, iríamos nos surpreender ao vê-la atraída por<br />

livros grossos ou finos, com ou sem figuras.<br />

Porém, na verdade, o que está por trás da visão do livro fino para a criança na faixa etária de<br />

três anos e livro grosso para a criança na faixa etária de oito anos, por exemplo, é uma<br />

concepção bastante limitada de criança, como se ela evoluísse por estágios previamente<br />

definidos e fosse incapaz de compreender algo ainda não vivenciado.<br />

Para reforçar essa visão equivocada, há também os catálogos de editoras, que criaram um semnúmero<br />

de coleções baseadas em faixas etárias definidas.<br />

Conforme pesquisas na área, esta é uma tendência que se acentuou dos anos 1980 em diante. Ao<br />

desenvolver uma pesquisa sobre a história do livro no Brasil, Laurence Hallewell3 aborda os<br />

livros destinados à criança que foram editados nos anos 80. Destaca que a variedade e a<br />

produção mostraram um aumento considerável na área, atingindo mais de mil títulos.<br />

Podemos perceber, portanto, que o mercado de livro voltado para o público infanto-juvenil<br />

cresce e, quanto mais se fragmenta a criança, mais livros podem ser vendidos. Lógica de<br />

mercado, não é mesmo?<br />

Mas, felizmente, as pesquisas sobre a criança também se fortalecem e aprendemos com esses<br />

estudos que a criança não é um feixe de faixas etárias reunidas, um corpo biológico apenas. A<br />

criança é um ser de cultura, que, ao se relacionar com o mundo, aprende nos intercâmbios com<br />

seus pares e é capaz de modificá-lo; dotado de uma lógica singular, consegue ir além do<br />

desenvolvimento alcançado em um dado momento. 4<br />

Retomando a carta da professora Carla, podemos perceber que não havia problemas para a<br />

leitora em formação quanto ao número de páginas, à ausência de ilustrações naquele momento;<br />

o que parecia movê-la para a leitura era a profunda curiosidade, o seu grande nível de interesse.<br />

A mãe, ao presenteá-la com Alice no País das Maravilhas, agiu como uma verdadeira<br />

mediadora entre a criança e a leitura, provocando-a a ir além de seus limites.<br />

E não seria esse o lugar mais interessante para o(a) professor(a) ocupar naqueles momentos em<br />

que precisa selecionar, indicar a leitura para as crianças, instigando-as a superarem seus<br />

limites?<br />

Exatamente por tudo o que dissemos anteriormente, sugerimos haver mais de uma resposta para<br />

aquelas questões: um(a) professor(a)-mediador(a), que impulsiona o nível de desenvolvimento<br />

da criança ou um(a) professor(a) que a deixa restringir-se aos seus limites?<br />

Obviamente a escolha é de cada um. Contudo, a mãe da professora de nossa última história nos<br />

parece uma educadora com a visão bastante apurada, não acha?<br />

Para complementar a história extraída da experiência com a leitura de Alice no País das<br />

Maravilhas, talvez seja mesmo prudente ouvir o que alguns leitores, famosos ou não,<br />

relembram sobre diferentes tipos de leitura, especialmente as proibidas, e as modalidades que<br />

mais os atraíam.<br />

3<br />

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queirós; Universidade de São<br />

Paulo, 1985, p.591.<br />

4<br />

A este respeito, ver, entre outros, PERROTI, Edmir. “A criança e a produção cultural”. In:<br />

ZILBERMAN, Regina. A Produção cultural para a criança. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.;<br />

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos<br />

psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991; VYGOTSKY, Lev Semenovich.<br />

Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

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