Alfabetização, Letramento - Inep
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de ornar ou elucidar o texto, mas ela também dialoga com ele, nem sempre representando o que<br />
o autor escreveu.<br />
Ao mesmo tempo em que lemos os textos, lemos também as ilustrações. Se isso é verdade,<br />
então as ilustrações podem modificar a compreensão, podem interferir na leitura.<br />
Há escritores que ilustram, eles mesmos, seus livros, como é o caso de Ângela Lago, Eva<br />
Furnari, Luís Camargo, Ricardo Azevedo, Roger Mello e Ziraldo, dentre outros. E há também<br />
livros feitos apenas de imagens, que podem ser lidos inclusive por crianças que estão na fase<br />
inicial da aquisição da leitura e da escrita. Veja por exemplo o livro Ida e Volta, de Juarez<br />
Machado, que ganhou da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil o prêmio de “melhor<br />
livro sem texto”.<br />
Atividade de pesquisa e reflexão:<br />
Você conhece outros livros como este, sem texto? Compartilhe com seus<br />
colegas a sua informação. Analise as estratégias de leitura necessárias para a<br />
compreensão de um livro sem texto.<br />
Assim como a ilustração faz parte do livro, a imagem<br />
também desempenha importante papel no processo de<br />
leitura. As descrições feitas pelos escritores muitas<br />
vezes nos estimulam a construir imagens: trata-se da<br />
associação entre palavra e imagem, construída por<br />
meio da leitura. Vejamos, por exemplo, num livro que<br />
conta as aventuras de Perceval, um cavaleiro medieval,<br />
da corte do Rei Arthur, como o narrador nos apresenta<br />
uma personagem:<br />
a leitura das ilustrações é<br />
uma das estratégias<br />
utilizadas por leitores para<br />
antecipar conteúdos de<br />
textos e fazer inferências<br />
(vide fascículo 1).<br />
Nessa mesma noite, o rei, a rainha e os barões fazem grande festa a Perceval<br />
(...). Festejam toda a noite, mais o dia seguinte. Depois, no terceiro dia, vêem<br />
chegar uma donzela sobre uma mula amarela, que guia com a mão direita,<br />
duas tranças negras às costas. Homem jamais viu ser tão feio, mesmo no<br />
inferno! Homem jamais viu metal tão baço como a cor de seu colo e das mãos.<br />
Outra cousa porém era bem pior: os dois olhos, dois buracos não maiores que<br />
olhos de ratos. O nariz era um nariz de gato, os lábios de burro ou boi, os dentes<br />
amarelos como gema de ovo. A barba era a de um bode. Peito corcunda,<br />
espinha torcida. Ancas e ombros mui bons para o baile. Outra corcunda nas<br />
costas, pernas tortas como vara de vime, também próprias para a dança. 11<br />
O livro de onde esta citação foi extraída não traz nenhuma ilustração. Porém, a narrativa é feita<br />
de forma tão plástica, como neste trecho, que podemos imaginar e visualizar cenas, cenários e<br />
personagens. Um ilustrador que quisesse reeditar este livro com outro projeto gráfico poderia se<br />
valer desta característica da narrativa medieval para produzir as ilustrações. E nós, leitores,<br />
construímos em nossa imaginação as ilustrações que (ainda) não foram feitas.<br />
11 TROYES, Chrétien. Perceval ou o romance do Graal. [tradução: Rosemary C.<br />
Abílio]. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p.85.<br />
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