Alfabetização, Letramento - Inep
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pessoa de lá e nós moramo aqui na cidade, falamo igual as pessoa da cidade.<br />
A13 – Cada pessoa fala de um jeito, se mora na cidade fala do jeito do povo da<br />
cidade, se mora na roça fala do jeito do povo da roça.<br />
P – As pessoas da cidade conseguem entender o que as pessoas da roça querem<br />
dizer ao falarem? E as pessoas da roça conseguem entender as pessoas da<br />
cidade?<br />
A14 – Consegue, na minha família tem pessoa que mora em chácara e a gente<br />
consegue entender o que eles falam e eles também consegue entender o que nós<br />
fala.<br />
P – Então existe jeito “certo” ou “errado” de falar?<br />
A1 – Não. Cada pessoa fala do seu jeito.<br />
Reflexão sobre regras variáveis freqüentes<br />
nas comunidades de fala no campo e nas cidades<br />
Vamos agora conversar sobre o relato que acabamos de ler. Ele é muito revelador da<br />
competência comunicativa dos alunos, de suas habilidades de tecer comentários pertinentes<br />
sobre o filme que assistiram e de dar respostas adequadas à professora. Observe que essas<br />
crianças de primeira série já são capazes de discorrer sobre diferenças entre a vida na roça e a<br />
vida na cidade. Para interpretar as características sociodemográficas do personagem Chico<br />
Bento, que representa a cultura rural, eles as associam a experiências que têm com chácaras,<br />
caseiros e festas juninas. Também já são capazes de perceber que as diferenças na fala no<br />
campo e nas cidades não impedem a<br />
compreensão, e acompanham bem o raciocínio da<br />
professora quando esta os leva a concluir que o<br />
português falado em áreas rurais não se<br />
caracteriza como erro, apenas é diferente do<br />
português falado em áreas urbanas. Observe que<br />
os alunos criam várias hipóteses sobre a fala de<br />
Chico Bento. Comentam que o Chico fala “muito<br />
enrolado e que parece que ele está aprendendo a<br />
falar”; “que ele não estuda” e “quando for para a<br />
escola vai aprender a falar bem direitim”. A<br />
professora vai acatando as hipóteses e<br />
apresentando perguntas que os levam a<br />
desenvolver o raciocínio. Aos poucos, as crianças<br />
substituem os primeiros enunciados em que se<br />
pode perceber uma certa desqualificação da fala<br />
de Chico Bento por outros já baseados no<br />
Relativismo cultural.<br />
Um deles diz: “Cada pessoa fala de um jeito, se<br />
mora na cidade fala do jeito do povo da cidade, se<br />
mora na roça fala do jeito do povo da roça”. A<br />
essa altura, a Professora introduz duas perguntaschave:<br />
sobre o entendimento mútuo entre falantes<br />
de variedades diferentes e sobre o juízo de valor<br />
relativo ao certo e ao errado.<br />
O Relativismo cultural é uma<br />
postura adotada nas<br />
Ciências Sociais, inclusive<br />
na Lingüística, segundo a<br />
qual uma manifestação de<br />
cultura prestigiada na<br />
sociedade não é<br />
intrinsecamente superior a<br />
outras. Quando<br />
consideramos que as<br />
variedades da língua<br />
portuguesa empregadas na<br />
escrita ou usadas por<br />
pessoas letradas quando<br />
estão prestando atenção à<br />
fala não são intrinsecamente<br />
superiores às variedades<br />
usadas por pessoas com<br />
pouca escolarização,<br />
estamos adotando uma<br />
posição culturalmente<br />
relativa e combatendo o<br />
preconceito baseado em<br />
mitos que perduram em<br />
nossa sociedade.<br />
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