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se em queda, perdendo o equilíbrio, ao prazer de uma sensação corpórea voluptuosa.<br />

Tangenciar o risco de morte é o que parece excitá-los, diz Le Breton<br />

(1991). Paradoxalmente esses esportes conjugam vertigem e controle, abandono<br />

e potência total, o que nos leva a questionar o que afirma o autor. Não seria<br />

a busca de seus próprios limites, da expansão de si, de seu interior, algo que surge<br />

em seus discursos como liberdade, que poderia encaminhá-los a tais vivências?<br />

Quinodoz (1995), psicanalista, distingue a sensação de vertigem vivenciada<br />

desse modo como aquela criada pelas condições externas próprias à atividade,<br />

diferenciando-se do caso de origem patológica cujas fontes de informação vêm,<br />

no caso de origem somática, da coordenação dos sistemas sensoriais: informações<br />

óticas, proprioceptivas e do aparelho vestibular, no ouvido interno, ou de<br />

um componente psíquico. A autora, portanto, ao discutir a vertigem o faz considerando<br />

os mecanismos somáticos e psíquicos que desencadeiam a vertigem e<br />

o equilíbrio, bem como a personalidade dos praticantes. Fala de uma vertigem<br />

metafísica, de uma necessidade de encontrar um sentido psíquico para a questões<br />

de existência como a vida, a morte, o vazio, o aniquilamento, o infinito, a<br />

eternidade, vivenciada por uma angústia de não encontrar tais sentidos e do<br />

valor da vivência corporal como favorecimento ao enriquecimento psíquico do<br />

sujeito, destacando as representações corporais e as fantasias.<br />

Nesse sentido destaca que é possível jogar com a vertigem unindo-se as pulsões<br />

de vida e de morte, elaborando uma síntese a serviço dos processos vitais e que<br />

esses atores sociais, que jogam com a vertigem, não estão flertando com a<br />

morte, como pressupõem Le Breton e a representação da maioria das pessoas<br />

acerca desses esportistas aventureiros, de que se comportam como suicidas. A<br />

essa síntese poder-se-ia chamar da vivência de um estilo de vida próprio, com<br />

qualidade, e que isso é colocado, de modo positivo, a favor da realização dos<br />

sentidos a que esses homens se propõem: conhecer e expandir seus limites. O<br />

rigor e o controle na vivência dos riscos calculados permitem que eles visualizem<br />

antecipadamente os possíveis perigos e que se mantenham em estado de alerta,<br />

durante todo o tempo, o que lhes dá condições de desafiar seus limites em todos<br />

os domínios, ainda que “o limite entre a vida e a morte seja o mais espetacular”<br />

(Quinodoz, 1995, p.146). Para essa autora, o prazer advindo desse gosto por<br />

jogos de desafio torna-os jogadores não do “impossível” (como tratam os discursos<br />

da mídia), mas de jogadores do “possível”. Tentam expandir seus limites,<br />

mas não ultrapassá-los.<br />

O gosto pelo limite, pelo “possível”, parece ser o que diz Roger Caillois (1988),<br />

no livro O homem e o sagrado, ao falar de um mundo profano, cercado de<br />

segurança, regrado, (como o que vivemos em nossas rotinas cotidianas, por<br />

exemplo) refere-se à quebra do limite desse mundo para se alcançar o mundo<br />

sagrado (aquele que nos conduz à transcendência, à evolução interior); diz que<br />

dois abismos limitam o mundo profano da segurança e da comodidade, e que<br />

duas vertigens atraem o homem, quando esse conforto e segurança já não o<br />

Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo 223

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