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contra adversidades, seja de homens, seja de elementos. Ela projeta os indivíduos<br />

em outra dimensão de sua existência, longe de suas referências menos familiares<br />

ou de outras formas de rotinas pessoais. A adversidade encontra em Ulisses<br />

3<br />

um ancestral tutelar, um herói noturno. Em especial nas qualidades de coragem,<br />

competência prática, força física, imaginação fértil, astúcia, inclusive quando<br />

amarrou-se para não enfrentar e sucumbir ao canto das sereias.<br />

A aventura, continua Le Breton, se opõe à condição banal do homem, onde a<br />

sucessão dos dias não sofre algum incômodo. Ela o leva a mergulhar numa gama<br />

de peripécias para as quais não está preparado. Ela se instala na duração quando<br />

é um modo de vida, escolha sem trégua do perigo, a permanência de uma relação<br />

com o mundo. Por se conduzir fora da rotina ou de caminhos domesticados, ela<br />

exige uma via clandestina, marginal, noturna, imprevisível, notadamente perigosa<br />

e atraente. A exaltação que ela suscita dá ao aventureiro uma consciência<br />

excitada de existir.<br />

A aventura na escalada vivida por um paraplégico evidencia essa consciência<br />

de existir de que fala Le Breton:<br />

“Se eu sair daqui vivo, juro que nunca mais faço isso. Foi o que<br />

pensei num instante quando me percebi praticamente deitado<br />

no ar, eu estava suspenso por uma corda presa ao meu peito e<br />

cintura. Nessa posição eu via a corda que me pendia esmagada<br />

contra a extremidade do paredão pelo qual descíamos, também<br />

via o céu azul com leves nuvens brancas sopradas pelo<br />

vento e, ainda mais assustador, girando a cabeça eu podia ver,<br />

muitos metros abaixo, o chão, que aparecia entre rochas menores<br />

e as copas das árvores. Como cheguei nessa situação, o<br />

que me moveu na condição de paraplégico e amputado de<br />

ambas as pernas acima do joelho a encarar essa aventura, é o<br />

que tentarei explicar agora. [...] Esse trecho da trilha foi tão<br />

difícil de ser superado como a escalada propriamente dita.<br />

Houve trechos que eu tive que me sentar nas pedras ou ser<br />

içado para o patamar mais acima. [...] Finalmente galguei o<br />

ponto, quase no topo, onde há uma ponta que se projeta para<br />

fora da parede, aí fiz uma parada de mão, ou seja, fiquei suspenso<br />

por uma só mão que, devido ao ângulo necessário para a foto,<br />

foi com a mão esquerda, eu sou destro. Essa é a foto que mais<br />

gosto, exatamente porque entre todos os momentos da escalada<br />

foi o que possibilitou maior grau de autonomia. [...] O<br />

visual é deslumbrante. A sensação é incrível, ali me senti mesmo<br />

muito mais poderoso, e comentei com os demais: voar<br />

deve ser maravilhoso!” (Humberto Pinheiro Lippo, “Histórias e<br />

Estórias – Diário de Aventura” – (www.uol.com.br/webventure/<br />

mountain/h_diar.htm)<br />

Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo 229

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