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deste ponto ao cume. [...] Continuei a caminhada e, após ultrapassar<br />

um pequeno lago junto a Gorak Shep, cheguei a um monumento<br />

dedicado aos alpinistas mortos no Everest. [...] O monumento<br />

que se erguia ao lado do caminho me alertava para os perigos e<br />

parecia me dizer: Calma, vá tranqüilo! Não se afobe.” (Niclevicz,<br />

1994, p.72)<br />

Esse relato parece revelar que o ator conduz a aventura como um modo de<br />

vida, algo realizado por escolha ou por impossibilidade de viver de outro modo.<br />

Dizer-se mais motivado a escalar diante da imensidão e da força da montanha é<br />

dizer-se mais confiante, mas também leva a lembrar de ser mais prudente, mais<br />

cauteloso e atento aos perigos, o que não o intimida a prosseguir; ao contrário,<br />

a autoconfiança lhe diz que é capaz de realizar.<br />

A aventura explora as possibilidades da condição humana, recusa uma identidade<br />

limitada, é a aspiração secreta, nossa nostalgia sempre renovada. Le Breton<br />

(1996) diz que o desejo da aventura marca o inacabado da condição humana,<br />

esta aspiração para desejar o que não existe ainda, para responder aos pensamentos<br />

de fuga em que se deseja ser outro diferente de si.<br />

O fato de fazer uma escalada em alta montanha ou de deslizar em altas ondas,<br />

por exemplo, também estabelece uma rotina de acampar, escalar, adaptar-se ou<br />

de viajar, preparar a prancha, entrar no mar, aguardar a onda certa, deslizar.<br />

Parar para reflexões diante da paisagem remete à ruptura dessa rotina, colocando-se<br />

diante do inusitado, do memorável. A aventura vem então se estabelecer<br />

como a completude da própria vida; ela vem do exterior e ancora na necessidade,<br />

que é interior. E aí, como diz Simmel (1988), a vida para esses aventureiros só<br />

pode ser vivida como aventura, carregada de emoção, plena de eternidade. Por<br />

isso, apesar das diversidades, das dores, ele sabe que se renderá ao chamado de<br />

mais uma aventura, não se negar ao ouvir o Canto das Sereias.<br />

Para Simmel, a aventura se assemelha a uma conquista, ao aproveitamento<br />

rápido da oportunidade. O aventureiro trata o incalculável da vida de maneira<br />

idêntica a como nos comportamos com o totalmente calculável. Admite o autor<br />

que há um instinto místico que orienta a vivência do aventureiro genial, a ponto de<br />

considear que o desenrolar do mundo e o destino individual sejam faces de uma<br />

mesma moeda. Ele converte em segurança o mais inseguro e incalculável, do<br />

mesmo modo que o não-aventureiro pondera com o calculável. Sob o foco do<br />

aventureiro, o que pode parecer absurdo é apenas um desafio e uma brincadeira:<br />

“Saindo da chaminé são só mais uns 10m em cabo de aço e pronto!<br />

Você chegou no CUME!, agora é só assinar o livro que fica<br />

dentro da caixa e deixar uma mensagem para a posteridade; curta<br />

um pouco a sensacional vista (se estiver de tardinha você verá<br />

Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo 227

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