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quando se almeja mudar a lógica do capital que rege o tempo de trabalho e o<br />

tempo de não trabalho.<br />

Muitos autores acabam atribuindo ao tempo de lazer e às atividades lúdicas o<br />

mérito de favorecer a emancipação humana por si só. Isso deve ser questionado,<br />

a partir de um entendimento do alcance totalizante do capital. Se o trabalho é<br />

alienante na sociedade capitalista, não seria também o lazer? 3 Thomas<br />

Bottomore (1968:106) diz que sim: “O trabalho e o lazer não podem ser isolados<br />

um do outro, especialmente em sua influência sobre as atitudes sociais do indivíduo.<br />

O homem que gasta suas horas de trabalho numa posição subordinada,<br />

ocupado constantemente em tarefas maçantes e sem importância, em meio<br />

circundante desprovido de beleza, dificilmente será capaz de exprimir-se de<br />

maneira completa, como pessoa ativa criadora, durante o seu tempo de lazer.”<br />

Nessa direção, encontra-se Simone Weil (1979:65) que descreve, de forma<br />

pungente, a fragmentação servil que ocorre com o trabalhador no seu tempo de<br />

trabalho: “Dois fatores condicionam esta escravidão: a rapidez e as ordens. A<br />

rapidez: para alcançá-la é preciso repetir movimento atrás de movimento, numa<br />

cadência que, por ser mais rápida que o pensamento, impede o livre curso da<br />

reflexão e até o devaneio. Chegando-se à frente da máquina, é preciso matar a<br />

alma, oito horas por dia, pensamentos, sentimentos, tudo. Quer se esteja irritado,<br />

triste ou desgostoso, é preciso engolir, recalcar tudo no íntimo, irritação,<br />

tristeza ou desgosto: diminuiriam a cadência. E até a alegria. As ordens: desde o<br />

momento em que se bate o cartão na saída, elas podem ser dadas, a qualquer<br />

momento, de qualquer teor. E é preciso sempre calar e obedecer. A ordem pode<br />

ser difícil ou perigosa de se executar, ou até mesmo inexeqüível; ou então, dois<br />

chefes dando ordens contraditórias; não faz mal: calar-se e dobrar-se.”<br />

A autora enuncia o quão bom seria se o operário pudesse deixar sua alma junto<br />

com o cartão de ponto na chegada, para retirá-la, intacta, na saída da fábrica. As<br />

horas de lazer acabam sendo inúteis diante do esgotamento provocado por este<br />

tipo de trabalho. Havemos de nos perguntar: qual lazer poderia restituir o que as<br />

pessoas perdem de si no trabalho? A autora nos adverte contra os sistemas de<br />

reformas ou de transformação social anunciadores de diminuição da duração do<br />

trabalho, alegando que, se o trabalho não puder significar ação e reflexão, inúteis<br />

para a emancipação continuarão sendo as horas de não trabalho: “Ninguém aceitaria<br />

ser escravo por duas horas; a escravidão, para ser aceita, deve durar por dia<br />

o bastante para quebrar alguma coisa dentro do homem” (Weil,1979:140).<br />

Assim como a ciência e a tecnologia, o lazer também está subordinado aos<br />

limites impostos pelo capital, ou seja, está determinado pela necessidade da<br />

perpetuação do processo de maximização de lucros. Theodor Adorno (s/d:56)<br />

diz: “(...) essa atividade que se entende em si mesma como o contrário de toda<br />

coisificação também se coisifica. (...) No tempo livre, continuam as formas da<br />

vida social organizadas segundo o regime do lucro.”<br />

292 Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo

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