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As palavras do ator evidenciam que a fascinação e o desejo de galgar cada vez<br />

mais alto são os desencadeadores da aventura, e a sensação de realização e de<br />

poderio acompanham o ato de se aventurar.<br />

Uma idéia importante que Le Breton desenvolve é a de que o aventureiro é um<br />

homem que emerge na paixão do presente. Ele enfrenta no instante à frente toda<br />

a projeção do futuro. Ele raramente é apegado à busca da fortuna, nem mesmo<br />

para acumulá-la.<br />

A aventura tem um caráter mágico no imaginário humano. Todos carregam<br />

dentro de si o desejo de desbravar, de desprender-se e voar com liberdade, mas<br />

as máscaras sociais da cultura e do modo de educação que os envolve tolhe, em<br />

parte, esse desejo, fincando-lhes os pés na terra. Esses esportes de aventura e<br />

risco calculado, realizados na natureza, que hoje se desenvolvem na sociedade,<br />

com certeza estão agasalhando esses desejos. Ousada, a aventura se apresenta<br />

sempre carregada de risco e de incerteza e carrega seus adeptos a vivências em<br />

mundos imprevisíveis.<br />

O esporte na Natureza é regido pelo arcaísmo e o modernismo de Janos. Jano<br />

é um mito energético, dinâmico, é o senhor das passagens, é o oposto à passividade,<br />

é a unidade da ambivalência de quem vê o futuro e não se desprende do<br />

passado, aprende com ele. Há uma certa androginia na ambivalência de Jano. Ele<br />

se integra no regime diurno das imagens de Durand (1989), caracterizado pela<br />

estrutura heróica da fronte para frente, para o futuro e também no regime noturno<br />

das imagens, das estruturas sintéticas, da inversão da cabeça voltada para<br />

trás, para o passado. Jano não esquece o tempo, integra-o na narrativa. Faz<br />

passagem. E os discursos daqueles que praticam esportes na natureza apontam<br />

isso. Compreende-se a utilidade, o valor, rende-se às precariedades, mas se está<br />

em disponibilidade para o futuro. As ações também apontam a passagem: vai-se<br />

da angústia pela perda do equilíbrio ao prazer na vertigem, do descontrole ao<br />

controle total do tempo. Retorna-se ao primitivismo da natureza, mas se adota<br />

a segurança e o conforto proporcionado pela tecnologia.<br />

Há uma riqueza nesse homem novo, praticante desses esportes, na androginia<br />

de Jano, a expressão da totalidade, da coincidência dos contrários, frente e trás.<br />

Jano é um deus fecundo, exprime a perfeição das origens, de um estado primordial,<br />

de síntese, de totalidade.<br />

O imaginário social desses aventureiros do “possível” se apresentou assim, um<br />

sustentáculo dos discursos e do racional. Não se trata de um elemento secundário<br />

do pensamento humano, como diz Durand (1989), mas dos modos arquetipais,<br />

simbólicos e míticos que fundam os sistemas filosóficos, lógicos e conceituais,<br />

que lhes dão sustentação e nos fornecem pistas para ampliar a compreensão das<br />

singularidades dessas atividades que tanto mobilizam a sociedade na atualidade.<br />

230 Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo

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