22.07.2014 Views

Download - Sports In Brazil

Download - Sports In Brazil

Download - Sports In Brazil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

também as diferenças de classes e de oportunidades, crescem as distâncias<br />

entre trabalho e residência, cresce a distância entre os homens. O mesmo autor<br />

alerta que “nas cidades a proximidade física não elimina o distanciamento social,<br />

nem tão pouco facilita os contatos humanos não funcionais (...). O que une, no<br />

espaço, é a sua função de mercadoria ou de dado fundamental de mercadoria.”<br />

As áreas verdes e as praças públicas nos centros das cidades são cada vez mais<br />

reduzidas, sobretudo nas periferias. Em seus lugares são construídos arranhacéus<br />

e novos investimentos de produção e especulação mercadológica. Esses<br />

espaços, no entanto, poderiam favorecer o encontro ocasional e propiciar<br />

vivências prazerosas no tempo livre das pessoas. Mas, o que observa-se é que<br />

estes espaços estão sendo sub-utilizados, depredados e compreendidos como<br />

ameaçadores à integridade dos indivíduos.<br />

Não há no Brasil, como coloca Carlos Rodrigues Brandão (1994:29),<br />

internalização por parte das pessoas de que os espaços públicos lhes pertencem,<br />

por isso a dificuldade de usufruí-los e zelar por eles. Escreve o autor que: “<br />

a percepção comum entre nós é assim: aquilo que é público não é meu e mesmo<br />

que também não seja efetivamente do Estado, é uma questão do dele.”<br />

Roberto DaMatta (1985:17), em interessante ensaio antropológico, diz: “Na<br />

rua a vergonha da desordem não é mais nossa, mas do Estado. Limpamos<br />

ritualmente a casa e sujamos a rua sem cerimônia ou pejo...” Pode-se dizer que<br />

isso ocorre porque, na maioria das vezes, os espaços públicos são pensados e<br />

construídos pelo poder público (municipal ou estadual) sem a participação popular.<br />

Consequentemente, a população não estabelece identificação com estes<br />

espaços, não os pensa como seu ou como extensão de sua casa. 7 Além disso, é<br />

evidente o descaso do poder público no sentido da conservação destes espaços<br />

e da implementação de políticas educativas e de animação no campo do lazer.<br />

Roberto Damatta (1985:47) faz algumas considerações acerca da oposição entre<br />

“casa” e “rua” como referência à “espaço privado” e “espaço público”, respectivamente.<br />

A rua, ao contrário da casa, é lugar “de individualização, de luta e de<br />

malandragem. Zona onde cada um deve zelar por si, enquanto Deus olha por todos<br />

(...)”, é lugar de fluidez, movimento e perigo. Na rua passamos desapercebidos,<br />

somos indivíduos anônimos e nos comportamos de forma negativa: jogamos o<br />

lixo para fora de casa, não obedecemos as regras do trânsito e depredamos o bem<br />

comum. Segundo este antropólogo, a rua tem um código fundado em mecanismos<br />

impessoais onde as leis são mais dominantes que as pessoas. Assim, fica difícil<br />

para um cidadão “comum” modificar o lugar público da rua.<br />

Expressões como “vá para o olho da rua” ou “estou na rua da amargura” estão<br />

intimamente relacionadas ao status de indivíduo isolado e sozinho que<br />

corresponde ao espaço público. Nesse sentido, “(...) ser posto para fora de casa<br />

significa algo violento, pois, se estamos expulsos de nossas casas, estamos<br />

Meio ambiente, esporte, Lazer e turismo 295

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!