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01-Contra Capa Vol 29 nº 49 - Senado Federal

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116<br />

ANAIS DO SENADO FEDERAL<br />

OUTUBRO 2005<br />

37132 Quinta-feira 27 DIÁRIO DO SENADO FEDERAL Outubro de 2005<br />

podia dar, em um hectare, cem árvores, e, por árvore,<br />

25 quilos de vagens. Além da utilização normal da madeira,<br />

também as vagens, de grande teor alimentício,<br />

poderiam ser usadas para alimentar o gado.<br />

Para entrar nesse reflorestamento, o cidadão tinha<br />

que, primeiramente, levar a prova de propriedade<br />

e todas as características de análise de solo. Só depois<br />

de toda essa burocracia é que o IBDF autorizava<br />

o plantio.<br />

O proprietário, então, por sua conta, passava um<br />

trator, que tinha que ser de esteira, arrancava todos os<br />

vegetais que houvesse, gradeava duas vezes o terreno<br />

e fazia covas de cinqüenta centímetros de profundidade,<br />

distanciadas uma da outra. Vinha o fiscal do IBDF<br />

verificar se estava tudo certo.<br />

O cidadão plantava e vinha outro fiscal para ver se<br />

estava tudo plantado. Só então ele recebia a primeira<br />

parcela do dinheiro oferecido para o reflorestamento.<br />

Hoje, isso seria impossível, porque ninguém do<br />

meio ambiente deixaria arrancar todas as coisas naturais<br />

que havia na região para plantar uma árvore<br />

estranha.<br />

Mas vejam o que se passou: o cidadão tinha que<br />

colocar o seu dinheiro primeiro para receber a posteriori.<br />

Quando do pagamento da segunda parcela,<br />

os fiscais do IBDF visitaram mais de cem fazendas<br />

na Paraíba – isso deve ter acontecido também no Rio<br />

Grande do Norte, Ceará e Piauí –, mas a segunda<br />

parcela nunca foi paga, Sr. Presidente. Foi um engodo,<br />

nunca foi paga!<br />

Isso aconteceu há vinte anos. O IBDF se transformou<br />

no Ibama. A árvore que era um milagre não<br />

era: não crescia nem tinha madeira, e a previsão de<br />

18 a 25 quilos de vagens por árvore também não se<br />

confirmou. Além disso, a região ainda teve cinco anos<br />

de seca, e muitas dessas árvores morreram – apesar<br />

de terem dito que eram árvores que não morreriam de<br />

maneira nenhuma com a seca.<br />

Para piorar, os criadores que usaram as vagens<br />

para alimentar o gado tiveram uma surpresa desoladora:<br />

com pouco tempo comendo constantemente a<br />

vagem triturada de algaroba, o animal perdia a coordenação<br />

motora e a língua ficava dura – daí o nome<br />

da doença, língua-de-pau. Não foram poucos os que<br />

perderam o gado.<br />

Quando pedia o financiamento, o cidadão dava<br />

como garantia ao Governo a sua fazenda, mas assinava<br />

também como fiador. Vinte anos depois, sabem<br />

o que aconteceu? Mais de cem fazendeiros perderam<br />

suas fazendas, porque a Receita <strong>Federal</strong>, em nome<br />

do Ibama, entrou na Justiça cobrando a dívida ativa<br />

vinte anos depois, mesmo após alguns ganharem judicialmente<br />

– porque a Justiça entendeu que a dívida<br />

já havia caducado.<br />

Mesmo assim, hoje, na Paraíba, há exatamente<br />

60 fazendeiros lutando na Justiça. Eu os recebi hoje<br />

em meu Gabinete. Perderam o gado porque plantaram<br />

uma árvore que tecnicamente foi aconselhada pelo Go-<br />

verno, receberam a primeira parcela do financiamento,<br />

não receberam a segunda, gastaram o dinheiro e<br />

não foram compensados. E, agora, o valor da fazenda<br />

corresponde a menos de um terço do financiamento.<br />

O pior é que todos eles estão no Cadin.<br />

É muito duro crer no Governo, Sr. Presidente. E<br />

vejam que essa não foi uma ação do Governo Lula,<br />

nem do Governo Fernando Henrique. Isso aconteceu<br />

na época do Presidente Figueiredo.<br />

Não sei onde está a sensibilidade do Poder Público,<br />

não sei onde está a seriedade de uma pesquisa<br />

como essa, que assegurava que aquela árvore era<br />

fabulosa.<br />

E essa árvore também mostrou outro fator negativo:<br />

à medida que a seca vai chegando, ela seca o<br />

pouco de água existente, os poucos mananciais que<br />

ainda existem ou subsistem.<br />

Sr. Presidente, Srªs e Srs. <strong>Senado</strong>res, estamos<br />

com uma causa sem saber o que fazer. Essas pessoas<br />

estão no Cadin e demoram a ganhar na Justiça.<br />

Há processos com mais de 15 anos. E, desde o<br />

início do evento, há vinte anos, essas pessoas estão<br />

economicamente mortas. Não podem se movimentar,<br />

não podem tomar empréstimo, não podem abrir conta<br />

em banco...<br />

(Interrupção do som.)<br />

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI)<br />

– Prorrogo o tempo por mais três minutos, a fim de<br />

que V. Exª conclua.<br />

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Vou<br />

gastar apenas um, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PB)<br />

– Nas mesmas condições dos oradores anteriores.<br />

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB – PB) – Muito<br />

obrigado, Sr. Presidente.<br />

Não podem tomar empréstimos, não podem abrir<br />

conta em banco, não podem nada. Eu só sei que isso<br />

é uma grande injustiça. Há um ano e meio, encaminhei<br />

ofício a estes órgãos: Ministério da Agricultura, Ibama<br />

e Ministério da Justiça, e até hoje, 26 de outubro de<br />

2005, não recebi qualquer explicação plausível, mesmo<br />

porque não creio que existam elementos de plausibilidade<br />

para uma insanidade dessa proporção.<br />

Gostaria que o <strong>Senado</strong> da República tomasse<br />

conhecimento desse fato, que é bizarro, incrível e merecia<br />

estar no livro de recordes do Guiness, porque só<br />

mesmo em um Governo sem sensibilidade isso pode<br />

acontecer. Espero que não volte mais o Governo a recomendar<br />

aos fazendeiros árvores milagrosas como foi<br />

com a algaroba, uma lástima para a nossa região.<br />

Muito obrigado, Sr. Presidente.<br />

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI)<br />

– Agradeço, pelo espírito de síntese e pela competência,<br />

ao Líder Ney Suassuna, que usou menos do que<br />

o tempo de prorrogação.<br />

Concedo a palavra ao Líder do PSDB, <strong>Senado</strong>r<br />

Arthur Virgílio.

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