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01-Contra Capa Vol 29 nº 49 - Senado Federal

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OUTUBRO 2005<br />

ANAIS DO SENADO FEDERAL<br />

13<br />

Outubro de 2005 DIÁRIO DO SENADO FEDERAL Quinta-feira 27 370<strong>29</strong><br />

tencial tenha sido igualmente ceifada pela truculência<br />

da ditadura militar. Às famílias de cada um, presto<br />

minhas homenagens, certo de que, em todos os casos,<br />

a morte transcendeu seu sentido mais imediato<br />

e ganhou o significado da eternidade da história, da<br />

morte que gera novas vidas e, seguramente, vidas<br />

mais humanas.<br />

Muito obrigado.<br />

A SRA. PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT<br />

– MT) – Sr. <strong>Senado</strong>r, a solicitação de registro<br />

do seu discurso nos Anais do <strong>Senado</strong> será atendido<br />

de conformidade com o Regimento.<br />

Concedo a palavra ao nobre <strong>Senado</strong>r Mão Santa.<br />

O SR. MÃO SANTA (PMDB – PI. Pronuncia o<br />

seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – <strong>Senado</strong>ra<br />

Serys Slhessarenko, que preside a sessão, <strong>Senado</strong>ras,<br />

<strong>Senado</strong>res, brasileiras e brasileiros, ontem, esta Casa<br />

viveu um dos dias mais tristes, mas há a esperança<br />

de luta e de conquistas.<br />

<strong>Senado</strong>ra Serys Slhessarenko, o mundo hoje<br />

ainda chora o julgamento de Cristo, de Sócrates e,<br />

ontem, o Brasil chorou o “lavar as mãos” do Poder Legislativo<br />

– do <strong>Senado</strong>.<br />

<strong>Senado</strong>r Leonel Pavan, o <strong>Senado</strong> ontem lavou<br />

as mãos contra o entendimento de que os Poderes<br />

têm que ter igualdade e eqüidade. Um Poder é para<br />

frear o outro Poder. Isso é a igualdade, o equilíbrio de<br />

forças físicas.<br />

Este Poder, <strong>Senado</strong>r Antonio Carlos Valadares,<br />

se agacha diante do Poder Executivo, quando aqui<br />

coloca as medidas provisórias.<br />

Brasileiros, atentai bem! A Constituição, a Bíblia<br />

das leis de um país, <strong>Senado</strong>ra Serys Slhessarenko, tem<br />

250 artigos. Ontem, o número da Medida Provisória era<br />

255. Isso é uma lástima! Isso é uma vergonha!<br />

E, ontem, agachava-se ao Poder Judiciário. Não.<br />

Um Poder é para frear o outro, e aqui nós estamos. E dizia-se<br />

que o <strong>Senado</strong>r não existiu. Atentai bem! Aqui está<br />

a posição de São Tomé: a dignidade e o trabalho.<br />

A verdade, a tese é que cassaram o diploma do<br />

<strong>Senado</strong>r João Capiberibe. Então, que ele não existiu.<br />

Eu vim lá do Piauí e aprendi que é mais fácil tapar<br />

o sol com uma peneira do que esconder a verdade.<br />

E a verdade está aqui. Esta sessão, quem a solicitou,<br />

quem a pediu foi o <strong>Senado</strong>r João Capiberibe, que, para<br />

a Justiça, nunca existiu. Ele fez as melhores leis, os<br />

melhores relatórios e os melhores instantes de vida.<br />

Então, está aqui o documento. E eu passarei a<br />

lê-lo depois de apresentar a justificativa àquele que<br />

deveria ser seu orador oficial e que está como Cristo.<br />

Foi julgado, como Sócrates e outros injustiçados. En-<br />

tão, acho que, nos meus 63 anos de vida e de luta,<br />

trazido aqui pela força do povo do Piauí... O povo do<br />

Piauí, em episódios como esse, soube dar um freio. E<br />

eu passo a ler, com muita honra e com muita dignidade,<br />

o trabalho do extraordinário homem público João<br />

Alberto Rodrigues Capiberibe, <strong>Senado</strong>r de fato. O fato<br />

vem antes da lei; a lei vem depois do fato; o fato é que<br />

faz a lei, e este é o fato:<br />

Blém! Blém! O passado encostou no<br />

presente.<br />

No outro dia, eu seria transferido do calabouço<br />

do quartel da 5ª Companhia de Guardas,<br />

sediada no Forte de Belém, para o Presídio<br />

São José. Após 110 dias, longos, quase intermináveis,<br />

de dor e sofrimento, a transferência<br />

parecia um acontecimento a festejar. Mesmo<br />

sem imaginar a vida em uma penitenciária, a<br />

esperança me dizia que não seria pior do que<br />

viver mergulhado na incerteza do dia seguinte<br />

e sem ter com quem falar.<br />

O silêncio e a escuridão da cela foram<br />

rompidos pelo barulho da porta metálica se escancarando<br />

ruidosamente, deixando penetrar<br />

um pouco de claridade de um sol distante.<br />

Comunista não pode ter bom dia! Vamos!<br />

Levanta, terrorista! Tem um batalhão vindo aí<br />

pra te levar pro presídio!<br />

Era o Cabo Caranguejo fazendo suas<br />

despedidas sem perder o estilo; repetiu umas<br />

dez vezes que no segundo dia eu iria sentir<br />

saudades dali, que se eu não ficasse esperto<br />

lá no São José, com um olho no padre e outro<br />

na missa, viraria “presunto” em menos de<br />

uma semana. Pra quem não sabia o que iria<br />

encontrar pela frente, as palavras assustadoras<br />

do maldito Cabo Caranguejo grudaram<br />

no meu pensamento, atravessaram a noite e<br />

acompanharam-me no dia seguinte ao longo<br />

do percurso pelas ruas de Belém.<br />

O cortejo parou em frente ao portão principal<br />

do velho casario do século XIX, na Praça<br />

Amazonas, onde no passado funcionara um<br />

convento, transformado em prisão para abrigar<br />

duzentos presos. Na minha chegada recebi<br />

o número 519. Levou um tempão a minha<br />

passagem das mãos dos homens da ditadura<br />

para as mãos dos homens do Diretor da penitenciária;<br />

houve troca de informação e muita<br />

recomendação, afinal tratava-se de um preso<br />

enquadrado na Lei de Segurança Nacional,

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