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01-Contra Capa Vol 29 nº 49 - Senado Federal

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OUTUBRO 2005<br />

ANAIS DO SENADO FEDERAL<br />

647<br />

37740 Terça-feira 1º DIÁRIO DO SENADO FEDERAL Novembro de 2005<br />

cos foram humilhados, mas não foram desacreditados<br />

durante os 21 anos da ditadura militar.<br />

O público mantinha a esperança naqueles que<br />

estavam no exílio e nas prisões. Outra parte até acreditava<br />

nos políticos que estavam ao redor dos militares,<br />

que, para eles, estavam construindo um País desenvolvido.<br />

Mesmo quando a esperança era fruto da<br />

dívida e da inflação, havia esperança. Na resistência,<br />

armada ou não, dentro ou fora do País, a esperança<br />

continuou viva. Bandeiras de ordem lideradas por políticos<br />

eram encampadas pelo povo. Ao longo de todo<br />

o tempo da escuridão, o povo manteve acesa a chama<br />

da esperança.<br />

A democracia trouxe novas esperanças, construídas<br />

pela anistia, pelas Diretas, pela Constituinte,<br />

pela liberdade de imprensa. Trouxe novos líderes, que<br />

enfrentaram e ofereceram promessas.<br />

A morte do Tancredo matou uma esperança,<br />

mas, imediatamente, a posse do Presidente Sarney,<br />

conduzindo um processo de consolidação da democracia,<br />

do fim da censura e da anistia geral, retomou a<br />

esperança do povo. E o País chegou a uma democracia<br />

plena. Uma transição surpreendente foi conseguida da<br />

ditadura à democracia.<br />

A eleição do Presidente Collor, diga-se o que<br />

disser hoje, naquele momento, trouxe uma esperança<br />

ao povo brasileiro. Mesmo quando frustrou o País,<br />

havia esperança no banco de reservas para substituir<br />

o Presidente Collor. O Vice-Presidente Itamar assumiu<br />

com competência e fez outra transição competente, não<br />

apenas da corrupção à honestidade, mas também da<br />

inflação à estabilidade.<br />

Por seu passado, por suas posições anteriores,<br />

o Presidente Fernando Henrique Cardoso encarnou<br />

a esperança de um salto adiante no quadro social, na<br />

reorganização de nossas cidades, na retomada do crescimento,<br />

na justiça com os analfabetos, os sem-terra,<br />

os sem-teto, os sem-emprego, os excluídos, mantendo<br />

a estabilidade monetária. Seu Governo conseguiu<br />

manter a democracia e a estabilidade, mas frustrou-se<br />

como se fosse feito por um Presidente sem os mesmos<br />

compromissos com o seu passado.<br />

Mas ainda havia Lula, ainda havia uma esperança<br />

no banco de reservas por meio do PT. O Presidente<br />

Lula trouxe a última esperança que realizaria os sonhos<br />

de um Brasil que completasse a abolição, que<br />

completasse a República, que completasse a nossa<br />

independência. Três anos depois, essa esperança<br />

parece estar morrendo, como venho dizendo aqui há<br />

muitos anos, mesmo no tempo em que eu era militante<br />

do Partido dos Trabalhadores, como eu disse no<br />

tempo em que era Ministro, que se não cuidássemos<br />

a esperança poderia morrer e sem nenhuma outra no<br />

banco de reservas.<br />

O descumprimento de promessas de campanha,<br />

a revisão absoluta de certas posições sem explicações,<br />

tudo isso foi aos poucos corroendo a esperança, mas<br />

o importante é dizer que não foi apenas no Presidente<br />

Lula nem no PT. A descrença, temos que assumir, é<br />

hoje generalizada. Ela está hoje em todos os Partidos,<br />

na Oposição ou no Governo. Como se os princípios<br />

fossem identificados apenas com ser ou não ser Governo<br />

e não com ter ou não ter propósitos.<br />

É natural, por isso, que o povo perca toda a esperança<br />

em nós políticos, nos nossos Partidos, sem exceção,<br />

generalizadamente. É com tristeza que eu afirmo<br />

isso, mas com convicção. Até mesmo o que fazemos<br />

corretamente, como CPIs, tem agregado mais desconfiança<br />

do que qualquer outra coisa, sobretudo em relação<br />

ao Governo, mas também em relação à Oposição.<br />

Porque elas mostram entranhas de um poder doente,<br />

não o poder do Governo, o poder de todos nós.<br />

Mesmo assim, Srª Presidente, restava uma esperança,<br />

e eu confesso que essa está desaparecendo.<br />

Restava a nossa autoconfiança, nós, Líderes deste<br />

País. E eu me pergunto se essa autoconfiança e esse<br />

auto-respeito se mantêm.<br />

Eu me pergunto se é correta a transparência de<br />

nos desnudarmos diante da televisão, se a corretíssima<br />

transparência está mostrando ou não entranhas que<br />

destroem o pouco de credibilidade que podíamos ter,<br />

passando a idéia de um corpo legislativo despreparado<br />

para o momento, prisioneiro dos problemas imediatos,<br />

sem propostas para a construção do futuro, sem ao<br />

menos a consciência da gravidade maior de uma estrutura<br />

perversa de prioridades imorais, de debilidade<br />

nacional por todos os poros da Nação.<br />

Enquanto falamos desses assuntos aqui, os jornais<br />

de hoje dizem que o Brasil está igual ao Congo e ao<br />

Sudão. Não é isso que estamos discutindo. O povo tem<br />

razão de perder respeito até mesmo quando fazemos<br />

o certo de apurar os nossos erros, porque passamos a<br />

idéia de que nada mais estamos fazendo do que apurar<br />

os erros que cometemos, uns mais, outros menos, mas<br />

nenhum isento. E o povo, de fora, apenas assistindo a<br />

simples arena de um macabro esporte destruidor de<br />

credibilidade. Mas, apesar de tudo isso, Sr.ª Presidente,<br />

ainda havia uma ponta de esperança dentro de cada um<br />

de nós. Creio que as ultimas semanas estão destruindo<br />

até mesmo a auto-estima e a autocredibilidade.<br />

No domingo da semana passada, Sr.ª Presidente,<br />

nós assistimos envergonhados o povo mandar um recado<br />

a todos nós, dizendo, com uma maioria inesperada,<br />

que não acredita em nossas instituições para protegê-lo,<br />

que prefere a defesa pessoal de um povo armado ou de<br />

uma elite armada à confiança nas nossas polícias.<br />

Quase todos nós estávamos a favor da proibição<br />

da venda de armas, e o povo disse “não”. Disse “não” a

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