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01-Contra Capa Vol 29 nº 49 - Senado Federal

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ANAIS DO SENADO FEDERAL<br />

OUTUBRO 2005<br />

Novembro de 2005 DIÁRIO DO SENADO FEDERAL Terça-feira 1º 37741<br />

todos nós. Pode ter sido contra o Governo, mas é sobretudo<br />

o medo das instituições, a descrença total. Na<br />

mesma semana, vimos aqui neste Plenário um simples<br />

documento do Supremo Tribunal <strong>Federal</strong>, sem publicação<br />

do acórdão, levar à cassação de um companheiro,<br />

de um <strong>Senado</strong>r sobre o qual unanimemente todos se<br />

manifestavam favoráveis do ponto de vista da moral,<br />

ainda que muitos reconhecessem que, do ponto de<br />

vista da legalidade, era preciso cumprir aquele documento.<br />

Mas, cumprir sem ouvir a Mesa, cumprir sem<br />

ouvir a Comissão de Constituição e Justiça foi um ato<br />

de submissão que agrega não apenas desconfiança<br />

do povo em relação a nós, mas desconfiança dentro<br />

de nós em relação a nós próprios.<br />

Na mesma semana, no dia seguinte, mais um<br />

gesto que fere a nossa autoconfiança, a maneira como<br />

votamos a Medida Provisória chamada do Bem. Medida<br />

provisória que do bem tem muito pouco, <strong>Senado</strong>r<br />

Mão Santa, porque todas as análises que fiz do ponto<br />

de vista de distribuição de renda embutida ali mostram<br />

que aquelas medidas levam a concentração da renda e<br />

não a distribuição. Devo dizer aqui, sem entrar no mérito,<br />

que a emenda do <strong>Senado</strong>r José Sarney era uma<br />

das poucas que tinham conteúdo distributivo do ponto<br />

de vista regional e não necessariamente do ponto de<br />

vista social, porque poderia beneficiar empresários<br />

que iriam para aquela região. Mas tinha conteúdo distributivo.<br />

E votamos tudo aquilo.<br />

A sensação que tive é de que votávamos sem<br />

convicção, sem amadurecimento, sem percepção da<br />

gravidade de votar medidas provisórias. E não é de agora.<br />

Semana após semana, só nos reunimos para votar<br />

medidas provisórias e, mais grave, sem analisá-las com<br />

a obrigação de Líderes que somos neste País.<br />

Srª Presidente, diante disso é que quero aqui<br />

falar não mais da desconfiança que o povo tem em<br />

relação a nós, mas de uma autodesconfiança, que sinto<br />

no imaginário desta Casa, do Parlamento em geral,<br />

do Executivo e também do Judiciário, uma sensação<br />

de que estamos com as instituições profundamente<br />

ameaçadas pela desconfiança lá fora conosco e pela<br />

desconfiança interna de cada um nós. E quando os<br />

Líderes não confiam em si, não tem futuro o processo<br />

democrático.<br />

Eu quero concluir, Srª Presidente, se me der mais<br />

um ou dois minutos, dizendo que o povo percebeu o<br />

voto simplista que nós demos à medida provisória;<br />

a submissão que apresentamos quando aceitamos<br />

um simples documento sem a publicação do acórdão<br />

para cassar um companheiro que não tem sobre ele<br />

nada que toque na sua moral, embora haja, sim, que<br />

toque na legalidade de certos fatos. Nós recebemos<br />

tudo isso, provocando uma desconfiança entre nós. A<br />

única chama de credibilidade, aquela que não temos<br />

o direito de perder é a nossa própria confiança, nosso<br />

auto-respeito como Líderes e que – eu acho – está<br />

ficando frágil.<br />

Srª Presidente, é hora de perguntar se chegamos<br />

ao ponto além da esperança, quando nenhuma mais<br />

está no banco de reservas, nem do povo em relação<br />

a nós, nem de nós em relação a nós próprios.<br />

Queira Deus que sobreviva a única esperança que<br />

ainda tenho: que é a esperança de eu estar enganado,<br />

de que essa sensação que eu tenho não é a sensação<br />

dos outros, e de que os outros aqui estão confiantes<br />

de que são Líderes comandando o País e não apenas<br />

bonecos dando a impressão de que agimos a serviço<br />

do País. Queira Deus que essa frustração seja só minha,<br />

que o autodescrédito seja apenas meu; que os<br />

outros estejam orgulhosos do que fazemos aqui, do<br />

papel que representamos; orgulhosos de termos nos<br />

submetido à vontade do povo no “não”; de termos nos<br />

submetido à decisão do Presidente do STF, como sendo<br />

um grande gesto democrático; de estarmos votando,<br />

de uma maneira simplista, medidas provisórias, como<br />

se tudo isso fosse um gesto de engrandecimento do<br />

País. Quem sabe, de fato, um referendo que diga exatamente<br />

o contrário do que as instituições respeitadas<br />

merecem não seja um gesto positivo da democracia,<br />

porque a esta nos submetemos? Quem sabe nós nos<br />

submetermos ao Presidente do STF sem nada discutirmos<br />

seja positivo, como prova de democracia? Quem<br />

sabe votarmos as medidas provisórias sem análise<br />

seja um gesto correto?<br />

Eu não acredito nisso, Srª Presidente.<br />

Lamentavelmente, não tenho esperanças de que<br />

nossos gestos estejam de acordo com aquilo que o<br />

povo deseja. Não estão também de acordo com aquilo<br />

que cada um de nós, com tanto esforço, indo atrás<br />

dos eleitores, prometeu: ajudar a mudar o Brasil. No<br />

lugar disso, vemos instituições degradarem-se e a<br />

moral pessoal de cada um de nós ser pervertida pelo<br />

exercício de apenas um mandato que não manda e<br />

que, portanto, não cumpre a sua função.<br />

O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – <strong>Senado</strong>r Cristovam<br />

Buarque.<br />

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT – DF) – Srª<br />

Presidente, lamento ter vindo, em uma segunda-feira,<br />

manifestar essa perplexidade, essa descrença,<br />

quase que geral com a qual encerro o meu pronunciamento.<br />

Apesar de encerrado o meu discurso, se V. Exª<br />

autorizar, concederei um aparte ao <strong>Senado</strong>r Mão Santa<br />

com o maior prazer.<br />

O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – É a sensibilidade<br />

feminina, tão bem representada. <strong>Senado</strong>r e Professor<br />

Cristovam, V. Exª tem de ensinar ao País – essa é sua<br />

missão. V. Exª muito bem definiu o que devem ser os

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