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01-Contra Capa Vol 29 nº 49 - Senado Federal

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ANAIS DO SENADO FEDERAL<br />

OUTUBRO 2005<br />

Novembro de 2005 DIÁRIO DO SENADO FEDERAL Terça-feira 1º 37779<br />

O SR. PEDRO SIMON (PMDB – RS. Sem apanhamento<br />

taquigráfico.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs.<br />

<strong>Senado</strong>res, sou um homem de profundas convicções<br />

religiosas e considero a agricultura como uma atividade<br />

que permite ao ser humano partilhar com Deus a<br />

Criação. É por seu intermédio que a humanidade obtém<br />

da terra os alimentos necessários à sua sobrevivência.<br />

Como bem disse o Papa João XXIII, “no trabalho agrícola,<br />

o homem é, depois de Deus, o principal artífice<br />

da produção: o trabalho do agricultor é, por isso, uma<br />

forma de colaboração quase direta com a obra de Deus<br />

e grandemente honra quem o realiza”.<br />

Mas, Sr. Presidente, a agricultura no Brasil não tem<br />

merecido a devida atenção, e o respeito, por parte do Poder<br />

Público. Prova disso são as constantes manifestações<br />

de agricultores a que temos assistido, não só no meu<br />

estado, o Rio Grande do Sul, que, recentemente, enfrentou<br />

uma das mais duras secas de sua história, mas<br />

também em diversas outras unidades da Federação.<br />

Muitas vezes subi a esta tribuna para tratar deste<br />

tema, que tanto me preocupa, e sobre o qual pude agir<br />

mais diretamente quando fui Ministro da Agricultura. Hoje,<br />

retorno a este assunto, para chamar a atenção desta Casa<br />

e do Governo <strong>Federal</strong> para a situação da agricultura no<br />

Brasil. Ao fazê-lo, associo-me a outros Deputados e <strong>Senado</strong>res<br />

que, recentemente, também clamaram em prol<br />

da melhoria das condições de nossa agricultura.<br />

Antes, se V. Exªs me permitem, gostaria de fazer<br />

um breve retorno à História, a fim de contextualizar os<br />

problemas enfrentados pelo Setor.<br />

O início de nossa colonização, como sabemos,<br />

foi marcado pelo sistema de capitanias hereditárias,<br />

extensas faixas de terra concedidas pelo Rei de Portugal,<br />

para que fossem exploradas pelos donatários.<br />

Seu maior objetivo era a extração do pau-brasil e, mais<br />

tarde, a produção de cana-de-açúcar em larga escala,<br />

sob o regime de monocultura escravocrata. Durante<br />

quase 300 anos, nosso País foi um mero fornecedor<br />

de açúcar aos mercados europeus, com uma pequena<br />

agricultura de subsistência.<br />

Após essa fase, iniciou-se, em meados do século<br />

XIX, o ciclo do café, do qual o trabalho assalariado e<br />

os imigrantes foram a mola propulsora. Naquele momento,<br />

podemos dizer que surgiu o sistema agrícola<br />

brasileiro, com as primeiras políticas governamentais<br />

voltadas à valorização do preço do café no mercado<br />

internacional, prática esta que perdurou até o limite<br />

imposto pela crise de 19<strong>29</strong>.<br />

Nos anos 30, com a era Vargas, o Brasil passa a<br />

ser influenciado pelo pensamento industrial-desenvolvimentista,<br />

que buscava a superação da natureza pri-<br />

mário-exportadora, característica da economia do País.<br />

Foi, então, colocado em prática o chamado “modelo de<br />

substituição de importações”, que visava produzir dentro<br />

de nossas fronteiras o que vinha de fora. Esse processo<br />

se estendeu por várias décadas, levando à consolidação<br />

do parque industrial brasileiro, à urbanização, e à instalação<br />

de indústrias de máquinas e insumos agrícolas, o<br />

que possibilitou a modernização conservadora da agricultura<br />

brasileira e sua progressiva mecanização.<br />

Até o início da década de 60, não tínhamos nada<br />

parecido com uma política agrícola consistente. Havia<br />

apenas ações isoladas de governo tratando do assunto.<br />

Um dos primeiros esboços nesse sentido foi a Lei <strong>nº</strong><br />

4.504, de 1964 – o chamado Estatuto da Terra.<br />

Os governos militares que se seguiram procuravam,<br />

a seu modo, tirar o Brasil do subdesenvolvimento.<br />

Na década de 70, foi criada, então, a Empresa<br />

Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, que<br />

propiciou o desenvolvimento de novas tecnologias e<br />

a conseqüente expansão da agricultura brasileira, diversificando<br />

ainda mais a pauta de produtos agrícolas,<br />

que ganharam competitividade internacional.<br />

Vieram os anos 80 e, com eles, profundas dificuldades<br />

para a agricultura brasileira. Em função da<br />

crise econômica da época, o crédito rural foi duramente<br />

afetado, e muitos agricultores chegaram, mesmo, à<br />

inadimplência.<br />

No início da década de 90, assistimos à edição da<br />

Lei n.º 8.171, de 1991, que dispõe sobre a política agrícola<br />

nacional. Ela representou um significativo avanço<br />

em termos jurídicos, tratando da agricultura em todos<br />

os seus momentos: do plantio à distribuição final da<br />

safra. Entretanto, na execução dessa política, o Poder<br />

Público, muitas vezes, atua a reboque dos fatos, como<br />

bombeiro, “apagando um fogo aqui, outro ali”.<br />

Um exemplo disso, Sr. Presidente, já foi objeto<br />

de pronunciamento meu nesta Casa: é a situação dos<br />

plantadores de arroz do Rio Grande do Sul, que tiveram<br />

enorme prejuízo, tanto pela dura seca que se abateu<br />

sobre a região, quanto pela concorrência dos países<br />

do Mercosul. Agora, há uma necessidade urgente de<br />

definição, por parte do Governo, quanto à compra da<br />

produção excedente de 1,5 milhão de toneladas, para<br />

que não haja prejuízo ainda maior. Se houvesse uma<br />

política agrícola consistente e integrada neste País,<br />

Senhor Presidente, fatos como este seriam de extrema<br />

raridade.<br />

Sr. Presidente, Srªs e Srs. <strong>Senado</strong>res, sabemos<br />

que não apenas de boas intenções devem estar munidos<br />

os governantes, mas principalmente de ações

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