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A doenca como linguagem da alma.pdf

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cabelos tinham de suportar na época, e que muitos "carecas" sofrem até<br />

hoje.<br />

Os cabelos são um dos campos de batalha favoritos para as lutas<br />

simbólicas pela liber<strong>da</strong>de. Na China, erigiu-se to<strong>da</strong> uma ordem social,<br />

literalmente, com as tranças. Ain<strong>da</strong> hoje nós cortamos simbolicamente as<br />

velhas tranças. Em sua ordenação estrita, a existência <strong>da</strong> trança depende de<br />

que ca<strong>da</strong> mecha tenha e mantenha exatamente o seu lugar. O próprio ato de<br />

fazer a trança já é um ato de disciplina. Caso se comece todos os dias com<br />

essa autodisciplina simbólica, a vi<strong>da</strong> adquire uma moldura ordena<strong>da</strong>, mas<br />

também dolorosamente controla<strong>da</strong>. Nenhum fio de cabelo pode seguir seu<br />

próprio caminho, ca<strong>da</strong> mecha está firmemente sob controle. Nesse sentido,<br />

cortar as tranças é até hoje para muitas meninas um ato de libertação e de<br />

emancipação. Em épocas mais antigas, os cabelos longos não eram tanto<br />

um símbolo de liber<strong>da</strong>de para as mulheres, pois eram uma obvie<strong>da</strong>de. Por<br />

esta razão, quebrar essa regra era um ato de emancipação, e com isso a<br />

mulher queria de fato libertar-se do típico papel feminino, que se por um lado<br />

a livrava <strong>da</strong>s preocupações com a subsistência, por outro livrava-a também<br />

de qualquer responsabili<strong>da</strong>de social.<br />

O selvagem crescimento dos cabelos <strong>da</strong> geração de Aquário pode ter sido<br />

somente um breve relâmpago se o comparamos com a tormenta que se<br />

desencadeou quando as primeiras mulheres abandonaram suas longas e<br />

ordena<strong>da</strong>s cabeleiras para, com penteados pagem e à Ia garçon, assumir as<br />

liber<strong>da</strong>des do mundo dos homens. Em ambos os casos, tratava-se de impor<br />

a própria cabeça e não mais <strong>da</strong>nçar de acordo com a música dos outros. Por<br />

trás do lema: “O cabelo é meu” está, de maneira ain<strong>da</strong> mais decidi<strong>da</strong>: "Eu<br />

tenho minha própria cabeça e posso determinar de maneira independente o<br />

que cresce sobre ela e o que acontece dentro dela!”.<br />

Os penteados refletem posturas intelectuais. Assim, os artistas<br />

freqüentemente tendem a usar penteados extravagantes enquanto as<br />

pessoas que estão comprometi<strong>da</strong>s com as normas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de tendem a<br />

usar penteados uniformes, normais e pouco fantasiosos. Os “coques", que<br />

podem ser encontrados raramente no campo, são um caso ain<strong>da</strong> mais<br />

extremo que o <strong>da</strong>s tranças. Tudo está <strong>da</strong>do de antemão na forma rígi<strong>da</strong>, nem<br />

um único fio de cabelo pode levantar-se, não há lugar nem para a liber<strong>da</strong>de<br />

nem para a criativi<strong>da</strong>de, seja na cabeça ou na vi<strong>da</strong>. No pólo oposto, os<br />

penteados dos punks são um sinal <strong>da</strong>do conscientemente de que eles<br />

assumem to<strong>da</strong>s as liber<strong>da</strong>des e não querem ter mais na<strong>da</strong> a ver com a<br />

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