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A doenca como linguagem da alma.pdf

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que volta a ampliar a base <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Assim <strong>como</strong> a bengala, até mesmo a<br />

cadeira de ro<strong>da</strong>s, cerca<strong>da</strong> de uma aura de horror, pode trazer enorme alívio<br />

quando os pacientes acedem a aceitar auxilio.<br />

A deficiência de força, que chega a surtos de paralisia nos dedos e nas<br />

mãos, mostra que falta força para tomar nas mãos a própria vi<strong>da</strong>. Não pode<br />

haver coincidência maior em ambos os planos. A situação interna, senti<strong>da</strong><br />

<strong>como</strong> paralisa<strong>da</strong>, corresponde aos surtos de paralisia.<br />

O cansaço paralisante que surge em muitos casos se a<strong>da</strong>pta igualmente<br />

a esse quadro. Vários pacientes chegam a dormir até dezesseis horas e o<br />

sono consome mais <strong>da</strong> metade de suas vi<strong>da</strong>s. Não é raro que eles<br />

descrevam seu estado após o despertar tardio <strong>como</strong> “entorpecido". O<br />

entorpecimento em relação à própria vi<strong>da</strong> e suas necessi<strong>da</strong>des é<br />

característico. A recusa senti<strong>da</strong> demonstra que já se desistiu do curso <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e já não se deve mais esperar a busca de um objetivo com as próprias<br />

forças. É ver<strong>da</strong>de que popularmente costuma-se dizer que cansaço não é<br />

doença, mas essa forma que consome to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> vai muito além do cansaço<br />

resultante do desgaste de energia. Evidentemente há aqui a participação de<br />

uma certa quanti<strong>da</strong>de de defesa contra uma vi<strong>da</strong> fraca que foi força<strong>da</strong> para o<br />

corpo. Os pacientes afirmam freqüentemente que prefeririam dormir ao longo<br />

de to<strong>da</strong>s as suas misérias. Por outro lado, o dispêndio de energia é também<br />

muitas vezes enorme. Para os pacientes, tudo é tão fatigante que até mesmo<br />

coisas insignificantes os deixam extremamente cansados. A faca <strong>da</strong> cozinha<br />

pode ser pesa<strong>da</strong> demais quando o próprio braço já é sentido <strong>como</strong> um lastro.<br />

Tais pesos plúmbeos denotam a carga que oprime os afetados também em<br />

sentido figurado. Suspeita-se que em algum lugar há um furo por onde a<br />

energia escorre. É provável que a medicina tenha encontrado esse buraco:<br />

pesquisas sobre o sistema imunológico vêem na esclerose múltipla uma<br />

doença de auto-agressão. To<strong>da</strong>s as energias disponíveis são utiliza<strong>da</strong>s na<br />

luta contra si mesmo, de modo que sobra pouco para a vi<strong>da</strong> externa.<br />

Outros sintomas afetam a bexiga, aquele órgão com o qual nos aliviamos<br />

mas com que podemos também pressionar. Também nesse caso, a fraqueza<br />

está em primeiro plano em muitos pacientes de esclerose múltipla. Eles não<br />

podem mais reter a urina, e a bexiga a deixa escapar à menor oportuni<strong>da</strong>de.<br />

O sintoma força um retorno à situação <strong>da</strong> primeira infância, com sua<br />

incapaci<strong>da</strong>de de controlar as funções fisiológicas e a própria vi<strong>da</strong>. Os<br />

pacientes de EM deixam fluir embaixo, onde ninguém mais pode notá-las, as<br />

lágrimas não chora<strong>da</strong>s acima - que eles, em sua ausência de reação e<br />

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