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A doenca como linguagem da alma.pdf

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Figura de W. E. Hill<br />

Naturalmente, a velha e a jovem estão sempre e ao mesmo tempo lá.<br />

Entretanto, através <strong>da</strong> escolha podemos perceber apenas uma delas em um<br />

primeiro momento, aquela com a qual temos mais afini<strong>da</strong>de. Até mesmo<br />

quando, finalmente, descobrimos as duas, é impossível vê-las ao mesmo<br />

tempo, embora saibamos que elas estão lá simultaneamente. Aquilo que<br />

pode parecer divertido em um quebra-cabeça visual adquire uma quali<strong>da</strong>de<br />

muito diferente quando nos <strong>da</strong>mos conta <strong>como</strong>, ao longo de to<strong>da</strong> a nossa<br />

vi<strong>da</strong>, percebemos através de um desses retículos que deixam passar apenas<br />

determina<strong>da</strong>s coisas que são agradáveis para nós, tapando o resto. Nós não<br />

dirigimos nosso olhar ao mundo a nosso bel-prazer; vemos algumas coisas<br />

nele, e deixamos de ver outras. Na expressão de Schopenhauer "O mundo<br />

<strong>como</strong> vontade e representação”, essa experiência é posta em uso <strong>da</strong> mesma<br />

maneira que na opinião de Herman Weidelener, para quem olhar é também<br />

semear. Dessa maneira, abrem-se as portas para a especulação (do latim<br />

speculare = espiar), também liga<strong>da</strong> à visão, e a visão torna-se ain<strong>da</strong> mais<br />

suspeita. Uma aula de visão nos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela política, onde representantes de<br />

uma malha social podem reunir-se com os adeptos de um partido<br />

conservador ou liberal somente para separar-se sem que se chegue a<br />

nenhum resultado. Tanto opticamente <strong>como</strong> em pensamento, somente<br />

podemos concentrar-nos em um único ponto de vista em um determinado<br />

momento. Quando nos inclinamos a fazer desse ponto de vista o único a ser<br />

defendido, os problemas conhecidos estão sendo pré-programados.<br />

Os olhos nos mostram <strong>como</strong> estamos presos à polari<strong>da</strong>de. Eles<br />

transformam a simultanei<strong>da</strong>de em uma seqüência de eventos e garantem a<br />

lineari<strong>da</strong>de. Eles transformam a uni<strong>da</strong>de em duali<strong>da</strong>de e, dessa maneira,<br />

desempenham um papel central na desespera<strong>da</strong> situação em que nos<br />

encontramos. O conhecimento <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de por meio dos dois olhos físicos é,<br />

por princípio, impossível.<br />

Sendo assim, não é de admirar, e sim típico, que tenhamos problemas<br />

nos olhos com tanta freqüência. O fato de que nós, de maneira generaliza<strong>da</strong>,<br />

tenhamos a tendência de forçar demais a vista resulta <strong>da</strong>s exigências de<br />

nosso mundo primariamente óptico. Pois os problemas somente surgem<br />

quando não queremos perceber conscientemente as coisas percebi<strong>da</strong>s. Não<br />

olhar para isso, não querer percebê-lo, é somatizado nas formas e sintomas<br />

mais diversos. O fato de as culturas chama<strong>da</strong>s de “primitivas", menos<br />

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