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A doenca como linguagem da alma.pdf

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Trata-se aí de um conflito de fronteiras, já que o cinturão e a cintura<br />

marcam a fronteira entre o mundo superior e o mundo inferior, enquanto a<br />

pele é o órgão geral de fronteira. A zona encarna o rompimento dessa<br />

fronteira e a irrupção do conteúdo anímico sob a forma do liquido <strong>da</strong>s bolhas.<br />

Ela provoca feri<strong>da</strong>s úmi<strong>da</strong>s e abre as fronteiras em ambas as direções.<br />

Assim <strong>como</strong> o liquido sai, os agentes causadores podem entrar. Aqui<br />

também há algo de pérfido, pois enquanto os afetados bloqueiam<br />

estritamente suas fronteiras entre o que está acima e o que está abaixo e<br />

entre o que está dentro e o que está fora, o assalto tem êxito partindo do<br />

próprio interior do país. Os vírus zoster assumem o papel de quinta-coluna. O<br />

caráter de bomba-relógio <strong>da</strong> temática é acentuado por sua especial maneira<br />

de agir. Ela pode ser adia<strong>da</strong> por muito tempo, mas não ser posta de lado.<br />

Além disso, a pele coloca em jogo os temas <strong>da</strong> defesa e <strong>da</strong> resistência a<br />

um tema central <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A doença primária já deixa entrever uma<br />

resistência, que é necessariamente tão grande a ponto de abrir inteiramente<br />

o corpo. Aquilo que por muito tempo deu nos nervos desloca-se agora<br />

debaixo <strong>da</strong> pele. A erupção dolorosa do ataque torna o surto de resistência<br />

dolorosamente consciente. O sentimento de tensão, de algo que vai se<br />

estreitando, encarna por um lado a angústia e estreiteza <strong>da</strong> situação, e por<br />

outro também a necessi<strong>da</strong>de, já, <strong>da</strong> erupção. O ataque golpeia em um<br />

momento em que já se foi golpeado por outro lado. É <strong>como</strong> se fosse um<br />

golpe traiçoeiro na barriga, ou seja, diante do peito. Sua forma de cinto<br />

desenha imagens semelhantes a uma corrente, grilhões torturantes ou um<br />

rosário.<br />

A imagem <strong>da</strong> rosa que floresce [o nome popular <strong>da</strong> doença em alemão é<br />

Rosengürtel = cinto de rosas] faz soar também possibili<strong>da</strong>des de liberação do<br />

sintoma. Arma<strong>da</strong> de espinhos a rosa, além de prontidão, abrir-se e servir de<br />

símbolo do amor, simboliza também a capaci<strong>da</strong>de de resistência. Inflama<strong>da</strong>s<br />

rosas vermelhas sobre a cobertura do corpo são símbolos de disposição para<br />

a luta. O rubro dos ataques de fúria podem ser tão belos <strong>como</strong> as chamas<br />

devoradoras do amor, do entusiasmo ardente e <strong>da</strong>s labare<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ira<br />

sagra<strong>da</strong>.<br />

É preciso tornar-se novamente vulnerável, abrir fronteiras, romper muros<br />

e desabrochar. Desabrochar significa procurar contato. As flores<br />

desabrocham para ser fecun<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Com seus botões elas atraem os insetos.<br />

Com ca<strong>da</strong> florescimento e ca<strong>da</strong> erupção, o que está dentro toma-se visível,<br />

os lados luminosos e também os sombrios. Não é o caso de virar para fora<br />

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