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A doenca como linguagem da alma.pdf

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do evento cancerígeno ele cresce para além de si mesmo no mais puro<br />

sentido <strong>da</strong> palavra, fornecendo um projeto atrás do outro para sua<br />

descendência. Até mesmo os processos de regeneração no interior do corpo<br />

celular são deixados para trás em favor <strong>da</strong> incessante produção de novas<br />

gerações de células.<br />

Este comportamento lembra as células jovens, ou seja, em estado<br />

embrionário, quando o objetivo é acima de tudo o crescimento e a<br />

multiplicação. As células <strong>da</strong> mórula, aquele aglomerado de células em que a<br />

vi<strong>da</strong> humana se concentra a princípio, não têm ain<strong>da</strong> que desempenhar<br />

qualquer tarefa especializa<strong>da</strong>, cui<strong>da</strong>ndo somente de sua multiplicação. Elas<br />

fazem isso através de anima<strong>da</strong>s divisões e do respectivo crescimento. Ain<strong>da</strong><br />

assim, isso ocorre de maneira mais ordeira que com as desconsidera<strong>da</strong>s<br />

células cancerígenas. Além dos núcleos celulares superdimensionados e sua<br />

exagera<strong>da</strong> tendência à divisão, a indiferenciação <strong>da</strong>s células também lembra<br />

as formas <strong>da</strong> primeira etapa, ain<strong>da</strong> não maduras. Em seu delírio de<br />

propagação elas descui<strong>da</strong>m muitas outras coisas, perdendo muitas vezes a<br />

capaci<strong>da</strong>de de executar complicados processos metabólicos tais <strong>como</strong> a<br />

oxi<strong>da</strong>ção. Enquanto, por um lado, regridem à primitiva etapa preparatória <strong>da</strong><br />

fermentação, por outro elas recuperam a capaci<strong>da</strong>de de produzir substâncias<br />

que somente células embrionárias e fetais possuem. A medicina chama esse<br />

novo despertar e essa reativação de genes <strong>da</strong>s primeiras fases do<br />

desenvolvimento de anaplasia. O que externamente se supõe ser um caos<br />

faz sentido do ponto de vista do câncer. Ele recupera capaci<strong>da</strong>des<br />

primordiais e para isso elimina a especialização. Até mesmo essa eliminação<br />

apresenta uma vantagem. É ver<strong>da</strong>de que a oxi<strong>da</strong>ção, por exemplo, é mais<br />

eficiente que a fermentação, mas esta é em grande medi<strong>da</strong> independente de<br />

fornecedores. Enquanto as células normais dependem <strong>da</strong> respiração para o<br />

fornecimento, via sangue fresco, de oxigênio, uma célula que se limita à<br />

fermentação é em grande medi<strong>da</strong> autônoma.<br />

Conseqüentemente, a célula cancerígena tem menos necessi<strong>da</strong>de de<br />

comunicar-se com suas vizinhas, o que é vantajoso se consideramos suas<br />

péssimas relações de vizinhança. Enquanto as células normais têm o que se<br />

chama de inibidor de contato, que suspende seu crescimento quando<br />

encontram outros cornos celulares, as células cancerígenas se comportam<br />

exatamente ao contrário. Não tendo fronteiras para respeitar, elas invadem<br />

territórios estrangeiros com brutali<strong>da</strong>de. É compreensível que, com isso, elas<br />

despertem a hostili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vizinhança. Descobriu-se há pouco que as células<br />

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