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A doenca como linguagem da alma.pdf

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alguma sentiam-se constrangidos em invadir violentamente as fronteiras e<br />

atacar brutalmente culturas em sua maioria intactas, somente que menos<br />

agressivas. As condições de vi<strong>da</strong> não eram nem respeita<strong>da</strong>s nem poupa<strong>da</strong>s,<br />

e as pessoas que se encontrava eram declara<strong>da</strong>s minorias e escraviza<strong>da</strong>s.<br />

Ca<strong>da</strong> império estava de tal maneira convencido <strong>da</strong> própria megalomania a<br />

ponto de querer lançar em todo o mundo grandes ou pequenas edições <strong>da</strong><br />

Inglaterra, <strong>da</strong> Espanha, de Portugal, <strong>da</strong> França ou <strong>da</strong> Alemanha. Somente os<br />

outros impérios, igualmente canceromorfos, colocavam limites a seu<br />

crescimento invasivo. Tal <strong>como</strong> seu pen<strong>da</strong>nt anatômico, os remos coloniais<br />

freqüentemente tinham problemas de abastecimento, mas tratava-se<br />

sobretudo de expansão, e muito menos <strong>da</strong> falta de infra-estrutura necessária<br />

para tal. Assim <strong>como</strong> nos tumores, pode-se encontrar nos restos, digamos,<br />

do império colonial português, uma notável carência de infra-estrutura. Com<br />

essa espécie de crescimento indiferenciado, muito veio abaixo tanto nas<br />

colônias metastáticas <strong>como</strong> na matriz <strong>da</strong>s numerosas filhas malva<strong>da</strong>s. Em<br />

um determinado momento, tumores matrizes minúsculos tais <strong>como</strong> Portugal<br />

ou a Inglaterra tinham pendentes de si impérios gigantescos, que<br />

continuavam a se expandir e a consumir energia. A Inglaterra aproximou-se<br />

especialmente <strong>da</strong> imagem do câncer com suas colônias totalmente<br />

emancipa<strong>da</strong>s do “tumor matriz" (EUA, Canadá, Austrália, Rodésia ou África<br />

do Sul). A história <strong>da</strong> época colonial deixa claro que, no que se refere aos<br />

tumores nacionais, tratava-se muito mais de expansão e ostentação de poder<br />

que de comércio e intercambio. De maneira semelhante a cabeças<br />

hidrocefálicas, administrações coloniais infla<strong>da</strong>s parasitavam países<br />

economicamente indigentes cuja estrutura própria tinha sido saquea<strong>da</strong>,<br />

apoiando-se nas costas de "primitivos" escravizados cujo caráter certamente<br />

jamais atingiu o grau de primitivismo <strong>da</strong>queles que os colonizavam. As<br />

células cancerígenas, com seus núcleos superdimensionados exibem, em<br />

relação a seu entorno, um excesso de primitivismo semelhante.<br />

O padrão do câncer não confirma o de nosso mundo apenas em grandes<br />

traços, podendo ser seguido em detalhe para aqueles que têm olhos para vêlo.<br />

O crescimento <strong>da</strong>s grandes ci<strong>da</strong>des modernas oferece uma imagem<br />

explícita de ânsia de expansão de tipo canceromorfo. As fotos bra<strong>da</strong>s por<br />

satélites mostram <strong>como</strong> elas devoram e ulceram a paisagem circun<strong>da</strong>nte. Tal<br />

<strong>como</strong> um tumor canceroso, elas confiam no crescimento desalojador e<br />

infiltrante, enquanto ao mesmo tempo emissários isolados são enviados sob<br />

a forma de ci<strong>da</strong>des-satélites, ci<strong>da</strong>des-dormitório, zonas industriais e outras<br />

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