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A doenca como linguagem da alma.pdf

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Eles vivem <strong>como</strong> se estivessem paralisados de susto, sem admiti-lo para si<br />

mesmos. Eles não movem um só músculo <strong>da</strong> face. A medicina fala de<br />

"amimia", a ausência total <strong>da</strong> expressão natural do rosto. O paciente<br />

evidentemente aprendeu a não permitir que se note qualquer reação<br />

sensível. Seu rosto congelou-se em uma máscara que, em muitos aspectos,<br />

lembra uma máscara mortuária. Quando a isso se soma a rigidez <strong>da</strong> parte<br />

superior do corpo, niti<strong>da</strong>mente aproximando-se do típico rigor, temos a<br />

impressão de estar diante de um morto em vi<strong>da</strong>, de um zumbi. Pelo menos a<br />

redução de todos os movimentos que acompanham a vi<strong>da</strong> natural deixa claro<br />

um desenvolvimento em direção ao rigor mortis.<br />

Rigidez ca<strong>da</strong>vérica em vi<strong>da</strong> - no caso do estadista chinês Mao Tsé-Tung,<br />

essa imagem de horror tornou-se uma reali<strong>da</strong>de macabra, sendo<br />

transformado no fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em um monumento político vivo pelos que o<br />

cercavam. Condenado à total imobili<strong>da</strong>de pelo mal de Parkinson, ele ao final<br />

não podia nem mesmo falar. Mas mesmo <strong>como</strong> estátua viva ele continuava<br />

determinando a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> China, presente <strong>como</strong> modelo em to<strong>da</strong>s as partes e<br />

em to<strong>da</strong>s as bocas, ain<strong>da</strong> que sua boca há muito expressasse somente a<br />

mudez naquela posição ligeiramente aberta que é típica nos pacientes do<br />

mal de Parkinson.<br />

Além <strong>da</strong> voz que vai pouco a pouco falhando, outras funções do corpo<br />

deixam claro que se trata de um declínio, que as forças estão sumindo.<br />

Pode-se mencionar aqui a tendência de precipitar-se para a frente, que se<br />

reflete também na escrita. Juntamente com a paralisia que tem por objetivo a<br />

morte, expressa-se ain<strong>da</strong> no sintoma um medo profundo, que domina o<br />

paciente assim que ele se congela na imobili<strong>da</strong>de. Eles não tremem de uma<br />

maneira sensível, <strong>como</strong> folhas ao vento, são movimentos violentos. Esse<br />

tremor grosseiro, <strong>como</strong> foi dito, somente diminui quando eles empreendem<br />

alguma ativi<strong>da</strong>de. Totalmente rígido e inexpressivo na cabeça e no corpo, os<br />

movimentos trêmulos mostram <strong>como</strong> a inativi<strong>da</strong>de é angustiante e<br />

problematicamente sem sentido. Aqui está a raiz para o nome “paralisia<br />

trêmula”. Realmente paralisado e imóvel, é o medo que ain<strong>da</strong> busca o<br />

movimento. É notável tratar-se em sua maioria de pessoas que se impõe a<br />

exigência de mover algo no mundo. O sintoma mostra a elas quão pouco<br />

elas se põem em movimento em sua reali<strong>da</strong>de interna, em comparação com<br />

suas exigências, e sobretudo quão pouco movimenta<strong>da</strong> é sua vi<strong>da</strong> anímica,<br />

cuja rigidez e paralisia estão agora encarna<strong>da</strong>s. Além do medo, manifesta-se<br />

no tremor uma certa <strong>como</strong>ção, em que os pacientes podem ser também<br />

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