06.05.2013 Views

A doenca como linguagem da alma.pdf

A doenca como linguagem da alma.pdf

A doenca como linguagem da alma.pdf

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ambos os casos, os médicos modernos não ficam atrás. A digni<strong>da</strong>de do<br />

curandeiro expressa-se com freqüência em um comportamento que dá pouca<br />

importância as coisas deste mundo. Eles podem permitir-se deixar os<br />

pacientes esperando e tratá-los de acordo com a pirâmide hierárquica, de<br />

cima para baixo. No grau em que se encontram, eles naturalmente não têm<br />

na<strong>da</strong> a ver com fatos materiais; outros cobram os emolumentos. Os médicos<br />

até hoje utilizam intensamente essas possibili<strong>da</strong>des, em primeiro lugar com<br />

os pacientes e seu dinheiro, e em segundo lugar com solícitas empresas de<br />

produtos farmacêuticos. E <strong>como</strong> sempre, eles têm aju<strong>da</strong>ntes que<br />

desempenham as tarefas menos dignas17 . Pois, afinal, os curandeiros<br />

também se cercam de símbolos mágicos que impõem respeito,<br />

impressionam os não-iniciados e até mesmo os amedrontam. É neste<br />

contexto que entra a relação que se desenvolveu ao longo <strong>da</strong> história entre<br />

os médicos e a serpente, aquela víbora de Esculápio que se enrosca<br />

perigosamente no bastão do mesmo nome. Esculápio, o modelo dos<br />

médicos, tinha poder sobre as serpentes e seu reino, a polari<strong>da</strong>de. Os<br />

ver<strong>da</strong>deiros curandeiros se distinguem pela energia que irradiam, que se<br />

manifesta <strong>da</strong> maneira mais evidente na forma de uma auréola ao redor <strong>da</strong><br />

cabeça. Neste sentido, os médicos modernos somente podem oferecer um<br />

substituto. Mas é notável <strong>como</strong> seu protótipo é representado de múltiplas<br />

maneiras pelo oftalmoscópio dos otorrinolaringologistas, que pelo menos<br />

imita a auréola e exibe adiante, na testa, um brilhante símbolo solar, aquele<br />

espelho que, juntamente com os raios de luz, atrai para si a atenção de todos<br />

os não-iniciados.<br />

Mais do que a descrição em tom irônico que vai <strong>da</strong> luz dos santos ao<br />

atestado médico, trata-se aqui de relíquias <strong>da</strong> luta dos médicos pelo poder ou<br />

até mesmo de sua megalomania, que necessitam urgentemente de reformas.<br />

Tal avaliação, entretanto, considera apenas um lado <strong>da</strong> moe<strong>da</strong>. Quando se<br />

observa o outro, trata-se do padrão central e, tanto antes <strong>como</strong> agora, eficaz,<br />

de uma medicina que não sabe ela mesma porque funciona.<br />

A doença continua sendo também regressão, e automaticamente leva as<br />

pessoas a uma postura de entrega e de impotência. A posição horizontal do<br />

corpo volta a regular algo que antes era evidentemente um pouco louco: não<br />

é a vi<strong>da</strong> que está a nossos pés, mas nós que estamos prostrados frente a<br />

ela. Neste caso, qualquer forma de doença dignifica. A postura de humil<strong>da</strong>de<br />

combina<strong>da</strong> com a c<strong>alma</strong> que se instaura e a coação para a<strong>da</strong>ptar-se ao<br />

padrão "Seja feita a Sua vontade!" tem efeitos curativos. A doença, portanto,<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!