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A doenca como linguagem da alma.pdf

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comparativamente relaxados e quase não se lembram <strong>da</strong> experiência.<br />

Pode-se concluir do fato de que células cerebrais são destruí<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong><br />

ataque do Grande Mal e que a longo prazo a coisa escapará <strong>da</strong> própria<br />

vontade. Quadros tardios de epilépticos também apontam nessa direção, já<br />

que podem mostrar desde um ralentamento geral <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des até sinais de<br />

demência.<br />

Os sintomas do Pequeno Mal vão ain<strong>da</strong> mais além no âmbito psiquiátrico<br />

e serão mencionados à margem aqui somente para indicar que eles,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, apontam na mesma direção. Por trás <strong>da</strong>s ausências<br />

ocultam-se estados crepusculares que se apoderam repentinamente do<br />

paciente. O crepúsculo é uma situação de passagem de um plano para outro:<br />

do dia para a noite ou <strong>da</strong> vigília para o sono. As ausências forçam o paciente<br />

a ultrapassar esses pontos de passagem entre os planos, neste caso entre a<br />

vigília e os sonhos, ou seja, entre a vigília e o sono. A tarefa é evidentemente<br />

tomar a zona de luscofusco consciente, prestar mais atenção a ela<br />

conscientemente e tomar-se um an<strong>da</strong>rilho entre os mundos.<br />

Aparições ilusórias já são experiências de um outro mundo. O paciente<br />

que sofre de alucinações óticas vê algo que ninguém mais além dele<br />

percebe. O mesmo é válido para formas de alucinação acústica, olfativa e<br />

tátil60 . Evidentemente, o paciente deve e precisa aprender a integrar essas<br />

outras dimensões de sua reali<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong>. Como as alucinações são em<br />

sua maioria manifestações <strong>da</strong> sombra, a lição a ser aprendi<strong>da</strong> é clara: os<br />

conteúdos forçados para fora <strong>da</strong> consciência há muito tempo querem ser<br />

reconhecidos e integrados.<br />

Esse contexto toma-se ain<strong>da</strong> mais claro nos delírios. Neles emergem as<br />

sombras mais puras, ou seja, mais escuras, razão pela qual a psiquiatria<br />

costuma despreza-las <strong>como</strong> inexistentes. Manifesta-se naturalmente no<br />

delírio tudo aquilo que os pacientes não conhecem de sua vi<strong>da</strong> burguesa.<br />

Sob muitos aspectos, será exata-mente o contrário. Mas isso não faz com<br />

que sejam inexistentes, mas deixam entrever que fazem parte do mais<br />

profundo ser do paciente. É sua sombra, seu outro lado, escuro. Quando<br />

"atos violentos incontroláveis e sem sentido" irrompem, isso mostra por um<br />

lado que o paciente manteve essas energias sob controle totalmente e por<br />

tanto tempo que evidentemente a única saí<strong>da</strong> que lhes resta consiste em<br />

obter ar por meio <strong>da</strong> violência. Por outro, deixa entrever que esse atos não<br />

fazem nenhum sentido quando julgados de acordo com a existência<br />

burguesa dos pacientes, mas em relação à sua existência total, representam<br />

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