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A doenca como linguagem da alma.pdf

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defecação, enquanto a anímica é representa<strong>da</strong> pelo ato de urinar. O sintoma<br />

revela que o sentimento natural para o momento de <strong>da</strong>r está ausente. Agora,<br />

governado por reflexos condicionados e independente de sensações<br />

internas, é preciso aprender a soltar. No que a isso se refere, a vi<strong>da</strong> se<br />

transforma em um ritual forçado.<br />

A sexuali<strong>da</strong>de genital torna-se totalmente impossível. Neste ponto o<br />

acontecimento não é somente um revés, mas um retrocesso à primeira<br />

infância. A genitali<strong>da</strong>de e, com ela, o poder do próprio sexo, é retira<strong>da</strong><br />

repentinamente de maneira radical. Também an<strong>da</strong>r, ficar em pé e subir, e<br />

com isso avançar, progredir e ascender, ficaram paralisados. O progresso<br />

externo e a postura ereta tornaram-se impossíveis e somente podem ser<br />

substituídos pelos passos internos correspondentes. O círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> está<br />

niti<strong>da</strong>mente restringido e limitado por um ambiente estreito.<br />

É evidente que os afetados devem deslocar o centro de gravi<strong>da</strong>de de sua<br />

vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des externas para as internas e conseguir tempo para<br />

reconhecer sua situação. Eles não são mais livres, tendo sido acorrentados<br />

pelo destino (à cadeira de ro<strong>da</strong>s). Em vez do progresso externo, indica-se o<br />

desenvolvimento interno. Em vez de conquistar o mundo, é preciso <strong>da</strong>r-se<br />

bem em um circulo restrito. A liber<strong>da</strong>de e a retidão que foram corta<strong>da</strong>s<br />

levantam a suspeita de problemas anteriores a esse respeito. Golpes duros<br />

do destino decorrentes de acidentes mostram o quanto mu<strong>da</strong>nças de curso<br />

abruptas e profun<strong>da</strong>s são necessárias.<br />

A partir de declarações de vitimas de paralisia causa<strong>da</strong> por secção<br />

transversal <strong>da</strong> medula que dominaram seu duro destino e voltaram a tomar<br />

nas mãos as rédeas de sua vi<strong>da</strong>, depreende-se muitas vezes um autoconhecimento<br />

profundo e uma interpretação condizente do trágico<br />

acontecimento. “O acidente pôs fim à minha impulsivi<strong>da</strong>de selvagem" seria<br />

um tal auto-conhecimento. O afetado coloca em palavras que foi longe<br />

demais e se excedeu em sua ousadia. Ele somente desenvolveu a<br />

ver<strong>da</strong>deira coragem após o acidente, depois que, nos primeiros momentos<br />

de desespero, teve de reconhecer que a ousadia era apenas a compensação<br />

de um profundo sentimento de inferiori<strong>da</strong>de. Outros depoimentos, de<br />

motociclistas e praticantes de outros esportes radicais acidentados,<br />

comprovam que o acidente acabou com uma fase de movimentação externa<br />

exagera<strong>da</strong> e, sobretudo, inconsciente, mantendo-os salutarmente de volta ao<br />

chão firme. É depois de um período inicial em que a vi<strong>da</strong> na cadeira de ro<strong>da</strong>s<br />

é senti<strong>da</strong> <strong>como</strong> não valendo na<strong>da</strong> que os olhos se abrem para o valor <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

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