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A doenca como linguagem da alma.pdf

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tendência modera<strong>da</strong>.<br />

Não é somente na política que o derrame pode se transformar em um<br />

novo começo; to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s terapêuticas têm o mesmo objetivo. Como<br />

crianças pequenas, os pacientes precisam voltar a aprender a li<strong>da</strong>r com o<br />

lado afetado. O ponto mais importante <strong>da</strong> ginástica terapêutica é dirigir-se ao<br />

lado deficiente. A cabeça é volta<strong>da</strong> uma e outra vez na direção desdenha<strong>da</strong>,<br />

despreza<strong>da</strong>. Assim, em i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>, eles aprendem que têm dois lados e<br />

que dois seres habitam seu peito.<br />

O derrame, portanto, pode ser reconhecido <strong>como</strong> a execução força<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

tarefa formula<strong>da</strong> por C. G. Jung de integrar o próprio lado de sombra.<br />

Segundo Jung, a parte feminina, a anima, está ausente <strong>da</strong> consciência de<br />

todo homem, e sua parte masculina, o animus, falta a to<strong>da</strong> mulher. À medi<strong>da</strong><br />

que a vi<strong>da</strong> avança, esses componentes polares opostos forçam ca<strong>da</strong> vez<br />

mais para realizar-se. No derrame, o lado que já estava paralisado antes se<br />

retira, independentizando-se ao mesmo tempo do império do corpo e<br />

opondo-se a to<strong>da</strong>s as ordens. Ele tampouco anuncia o que quer que seja à<br />

central comum. Ele está em greve e se finge de morto. Aqueles contra quem<br />

se faz a greve têm agora de arrastar-se e fazer fisicamente o que sempre se<br />

negaram a fazer animicamente: <strong>como</strong> nunca antes, eles agora têm de<br />

preocupar-se com sua outra metade.<br />

Com pequenos exercícios eles aprendem, passo a passo, a an<strong>da</strong>r<br />

novamente. Freqüentemente utiliza-se para isso um an<strong>da</strong>dor, explicitamente<br />

recomen<strong>da</strong>do para auxiliar o an<strong>da</strong>r na infância. No que se refere à mão, o<br />

revés é ain<strong>da</strong> mais abrangente. O pegar, com o qual a criança já nasce,<br />

precisa ser treinado novamente pelo lado afetado. Simbolicamente, torna-se<br />

evidente aqui que os pacientes devem tomar novamente o controle de sua<br />

vi<strong>da</strong> e realmente aprender a compreendê-la. Nas situações agu<strong>da</strong>s, eles são<br />

incapazes de tomá-la com as duas mãos. Familiares são mantidos junto ao<br />

leito do doente para uma e outra vez, por meio de afagos, chamar a atenção<br />

do paciente para o lado afetado. Enquanto eles gostariam de tê-los a seu<br />

lado saudável, o médico lhes pede que justamente fiquem no lado oposto <strong>da</strong><br />

cama. Dessa forma, os pacientes são forçados a dirigir-se à porção de si que<br />

eles mesmos foram desligando. As contorções ver<strong>da</strong>deiramente serpentinas<br />

que eles executam nesse dilema mostra o quanto essa exigência lhes é<br />

difícil. Não é raro que eles ain<strong>da</strong> agora tentem desembaraçar-se dessa<br />

posição desagradável somente para não ter de dirigir-se à metade<br />

despreza<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Os derrames ocorrem quase sempre no último terço <strong>da</strong><br />

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