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A doenca como linguagem da alma.pdf

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enunciar totalmente a uma parte <strong>da</strong> feminili<strong>da</strong>de. O que não acontece em<br />

sentido figurado torna-se em algum momento tarefa do cirurgião, que extirpa<br />

o que está no caminho (<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>). quem não está disposto a proceder às<br />

incisões necessárias em sua vi<strong>da</strong>, precisa finalmente permitir que elas sejam<br />

feitas no plano não redimido.<br />

A tarefa de abrir mão (temporariamente) de certos âmbitos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para<br />

atender a outros que nem de longe estão recebendo a atenção devi<strong>da</strong> quer<br />

dizer, neste caso, abandonar o reino <strong>da</strong>s mães, o mundo <strong>da</strong> Lua. Isso pode<br />

significar, por exemplo: desistir de dependências; renunciar a garantias de<br />

bem-estar material liga<strong>da</strong>s a condições contrárias ao desenvolvimento;<br />

abandonar o papel de "boa esposa", amante tolerante e permanentemente<br />

em segundo plano, "filha queri<strong>da</strong>", mãe compreensiva" a quem tudo agra<strong>da</strong>,<br />

enterrar em sentido figurado e de livre e espontânea vontade a casinha com<br />

lareira; abandonar a postura de princesinha do pe<strong>da</strong>ço; deixar morrer a<br />

menina privilegia<strong>da</strong> de boa família; abandonar a mãe igreja em prol do<br />

próprio caminho, etc.<br />

O câncer é fun<strong>da</strong>mentalmente um sinal de que não se trilha ou não se<br />

está mais trilhando o próprio caminho de desenvolvimento, que o nascimento<br />

<strong>da</strong> <strong>alma</strong> não está se consumando. O câncer respectivo mostra à pessoa em<br />

que ponto do canal de nascimento se ficou atascado. Em se tratando do<br />

peito, arranha-se o sensível âmbito <strong>da</strong> materni<strong>da</strong>de e, com isso, to<strong>da</strong> a<br />

problemática de cui<strong>da</strong>r e ser cui<strong>da</strong>do, de alimentar e ser alimentado, de<br />

amamentar e ser amamentado, de prover e ser provido. Portanto, não é de<br />

admirar que nas pacientes de câncer de mama, quase sem exceção,<br />

encontremos relacionamentos especiais de materni<strong>da</strong>de, desde inexistentes,<br />

passando pelos que são negados, até "excepcionalmente profundo e bom". É<br />

nesse contexto que se deve pensar também no que se refere à rachadura do<br />

mamilo, um sinal de alerta para o câncer de mama que afeta no mínimo 10%<br />

<strong>da</strong>s pacientes. As glândulas mamárias começam a produzir leite e indicam<br />

que o tema <strong>da</strong> alimentação e <strong>da</strong> amamentação mergulhou na sombra.<br />

Como símbolo <strong>da</strong> maciez e <strong>da</strong> meiguice, enuncia-se também com o peito<br />

a temática do manter e ser mantido, <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de e do martírio, do<br />

insulto e <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de. O peito, <strong>como</strong> órgão de relacionamento, coloca<br />

perigosamente em cena os temas do recolhimento e do estar-fora-de-si, <strong>da</strong><br />

atração e <strong>da</strong> sedução, do ocultamento e do desafio.<br />

Em tudo isso, o objetivo justamente não é fazer "o certo", "o que é bom"<br />

ou "o que se espera", mas descobrir e impor aquilo que é próprio, individual.<br />

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