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A doenca como linguagem da alma.pdf

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concreta com a mais extrema violência. Ela não exerceu qualquer efeito nos<br />

corações e cabeças <strong>da</strong>s pessoas, que eram seu objetivo, porque estava<br />

ain<strong>da</strong> mais distancia<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real que o primeiro "Grande salto". E assim a<br />

Revolução Cultural também redundou em um terrível e estrondoso fracasso.<br />

Mao exerceu uma influência tão profun<strong>da</strong> sobre a China, ou seja,<br />

correspondia a esse gigantesco país tão perfeitamente <strong>como</strong> espelho, que<br />

até bem depois de sua morte devido ao mal de Parkinson a China apresenta<br />

a marca desse sintoma. O rígido e imóvel aparelho de poder, que Mao nunca<br />

quis e que mesmo assim simbolizava de maneira tão expressiva e até<br />

mesmo corporal, faz fracassar até hoje qualquer tentativa de renovação<br />

espiritual. Com isso ele bloqueia o próprio desejo de Mao, a revolução<br />

permanente que mantém a socie<strong>da</strong>de em constante movimento. O<br />

patologista austríaco Hans Bankl escreve sobre a atual República Popular <strong>da</strong><br />

China: "Um total de 9 milhões de mulheres velhas estão encarrega<strong>da</strong>s<br />

oficialmente de vigiar seus conci<strong>da</strong>dãos. Dessa maneira, tudo é impedido e<br />

aterrorizado: as pessoas, as famílias e a socie<strong>da</strong>de são rígi<strong>da</strong>s, sua postura<br />

é forçosamente curva<strong>da</strong>, elas fremem. A <strong>linguagem</strong> tomou-se<br />

incompreensível, a comunicação com o ambiente sucumbiu. É uma trágica<br />

ironia <strong>da</strong> história que os sucessores de Mao tenham contagiado todo o povo<br />

com os sintomas de seu mal de Parkinson” 50 .<br />

Assim <strong>como</strong> acontece com outros sintomas, a síndrome de Parkinson, de<br />

maneira terrível, também permite que aflore o ver<strong>da</strong>deiro rosto, ou seja, o<br />

padrão que está por trás dos sintomas e que francamente se transforma em<br />

caricatura. A rígi<strong>da</strong> máscara oleosa em lugar <strong>da</strong> vivaci<strong>da</strong>de espiritual<br />

demonstra<strong>da</strong> para o exterior é um símbolo disso.<br />

A tarefa consiste na realização libertadora do padrão expresso nos<br />

sintomas. Nesse sentido, trata-se de <strong>da</strong>r pequenos passos, não erguer muito<br />

a voz e prestar atenção aos detalhes que são exigidos. Antes <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de,<br />

deve-se estar atento para a quali<strong>da</strong>de, as sutilezas são de central<br />

importância, afinal trata-se sobretudo de uma perturbação dos movimentos<br />

sutis. A postura curva<strong>da</strong> e a tendência de cair sobre o próprio nariz desviam<br />

a atenção <strong>da</strong> frente para o chão. Trata-se de manter os olhos<br />

cui<strong>da</strong>dosamente na reali<strong>da</strong>de física e sempre retomar a ela, ou seja, ao chão<br />

dos fatos. A escrita que vai se tornando ca<strong>da</strong> vez menor desvia a atenção<br />

para o fato de que todo ímpeto inicial arrefece no curso <strong>da</strong> ação. A<br />

micrografia coloca diretamente a exigência de expressar as coisas de<br />

maneira menor e mais realista. O que no início do caminho começou tão<br />

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