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A doenca como linguagem da alma.pdf

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quente coração assume o poder. Mas ela não pode simplesmente aceitar<br />

este fato e começa imediatamente a distribuir culpa, afirmando que outro<br />

teria virado a cabeça de seu proprietário, que este ficou cego e então perdeu<br />

a cabeça. Isso não poderia acontecer caso a cabeça estivesse funcionando<br />

normalmente. Antes que o afetado perca completamente a razão, ou seja,<br />

antes que esta perca sua primazia, o intelecto tratará de construir as<br />

afirmações mais estranhas para pôr fim a este divino estado que para ele é<br />

tão ameaçador. Quase sempre, são seus argumentos racionais que<br />

perturbam e destroem o amor, terminando com o passeio pelo reino do<br />

coração. Ain<strong>da</strong> que a cabeça tenha de sofrer algumas derrotas no front do<br />

coração, ela certamente mantém a intuição do ventre firmemente sob<br />

controle. Somente o irracional sentimento popular é conhecido ain<strong>da</strong> por<br />

permitir-se ver com o coração e viver de acordo com as sensações do ventre.<br />

Em ditados tais <strong>como</strong> "amor e razão raramente caminham juntos" ou "quando<br />

o coração queima, a cabeça precisa buscar água", expressa-se a rivali<strong>da</strong>de<br />

entre a cabeça, o coração e as sensações. A "medicina" popular sabe que "o<br />

fogo do coração esquenta a cabeça", e uma cabeça quente, naturalmente,<br />

dói.<br />

Muitas vezes os intelectuais não conseguem decidir se a cabeça é dona<br />

<strong>da</strong> pessoa em questão ou se é esta que é dona <strong>da</strong> própria cabeça. Seja lá<br />

<strong>como</strong> for, para os homens modernos ela é a região superior e mais<br />

importante, com a qual nos ocupamos e preocupamos <strong>da</strong> maneira mais<br />

intensa. A maioria <strong>da</strong>s pessoas empregam mais tempo dispensando-lhe<br />

cui<strong>da</strong>dos que com todo o resto do corpo. No trabalho e no tempo livre, nós<br />

nos servimos principalmente <strong>da</strong> cabeça, confiando no comando central de<br />

seu cérebro.<br />

De sua eleva<strong>da</strong> posição, que é por assim dizer <strong>como</strong> a coroa <strong>da</strong> coluna<br />

vertebral ereta, nota-se que o papel de chefe de fato lhe cai bem. Sua forma<br />

redon<strong>da</strong>, próxima <strong>da</strong> esfera ideal, indica também a posição especial que<br />

ocupa. Apesar disso, deveríamos perguntar se o típico homem-cabeça de<br />

nossa cultura ain<strong>da</strong> tem consciência de que os outros centros também são<br />

de importância vital e de que à cabeça cabe somente o papel de "primeiro<br />

entre iguais". Basta observar a <strong>linguagem</strong> para ouvir que a cabeça somente<br />

pode afirmar [behaupten / Haupt = cabeça], mas não apreender. Para isso<br />

ela precisa <strong>da</strong>s mãos. Até mesmo suas afirmações ficam no ar enquanto não<br />

forem fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s [begründet / Grund = chão]. O primeiro lugar<br />

corresponde à cabeça, tal <strong>como</strong> demonstra a anatomia, mas ela não seria<br />

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