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A doenca como linguagem da alma.pdf

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vi<strong>da</strong>. As conexões entre os nervos <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s e especialmente às conexões<br />

dos nervos para os músculos, corresponde a falta de compromisso e a pouca<br />

disposição do paciente para a mediação entre suas próprias necessi<strong>da</strong>des<br />

vitais e as exigências do mundo exterior. A medicina não está segura do<br />

fun<strong>da</strong>mento físico <strong>da</strong> esclerose múltipla. A única certeza é a degeneração <strong>da</strong><br />

capa de mielina que recobre os nervos, o que a longo prazo leva à per<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de de condução nervosa.<br />

A enfermi<strong>da</strong>de tem tantas faces e sintomas que a princípio é<br />

freqüentemente mal diagnostica<strong>da</strong>. Estabelecido o diagnóstico, a medicina<br />

acadêmica56 se cala a respeito, devido à implacabili<strong>da</strong>de e intratabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

doença. Esse procedimento, duvidoso em si mesmo, é especialmente<br />

absurdo com pacientes de esclerose múltipla já que, devido a seu padrão<br />

anímico, eles se vêem em uma situação desespera<strong>da</strong> sem diagnóstico.<br />

Como eles exigem funcionar mais do que bem e fazer tudo com perfeição, e<br />

além disso tendem a assumir eles mesmos to<strong>da</strong> a culpa, suas múltiplas<br />

deficiências os colocam em situações desesperadoras. Isso chega ao ponto<br />

de eles aceitarem o diagnóstico com ver<strong>da</strong>deiro alívio quando finalmente o<br />

recebem, já que este os libera definitivamente do ódio <strong>da</strong> simulação e <strong>da</strong><br />

pressão sobre si mesmos e finalmente lhes dá um pretexto para relaxar ao<br />

menos um pouquinho o próprio perfeccionismo. Eles agora já não precisam<br />

mais poder tudo.<br />

A tendência de ranger os dentes e culpar-se a si mesmo, alia<strong>da</strong> a uma<br />

certa teimosia, são também um perigo para as interpretações que se<br />

apresentam. Indica-se aqui uma vez mais que nunca se trata de avaliação,<br />

ain<strong>da</strong> que o idioma faça com que pareça ser assim, mas sempre de<br />

interpretação. Quando se interpreta a vi<strong>da</strong> do paciente com todos os seus<br />

fenômenos, ela não se torna melhor ou pior; ela se transforma em<br />

significado.<br />

Apesar de sua varie<strong>da</strong>de, os sintomas circunscrevem um padrão básico.<br />

A sensibili<strong>da</strong>de dolori<strong>da</strong> <strong>da</strong> coluna vertebral, muito freqüente, decorre dos<br />

processos inflamatórios crônicos que se desenvolvem nas profundezas<br />

desse âmbito. Muitos afetados queixam-se de dores nos pés, o que denota<br />

<strong>como</strong> para eles é difícil o caminho, que na maioria <strong>da</strong>s vezes não é o deles<br />

mesmos. As dores nos pés e nas pernas mostram <strong>como</strong> lhes é doloroso<br />

agüentar o caminho que está sendo percorrido. Elas forçam à<br />

condescendência, a assumir a própria dolorosa fraqueza. O fato de que se<br />

continue afirmando que a doença transcorre sem dores deve soar macabro<br />

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