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A doenca como linguagem da alma.pdf

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em si. O que antes era óbvio pode ser repentinamente reconhecido <strong>como</strong> um<br />

valioso presente e uma possibili<strong>da</strong>de de vivenciar experiências profun<strong>da</strong>s.<br />

Muitas vezes é, portanto, a cadeira de ro<strong>da</strong>s que revela o milagre <strong>da</strong><br />

lo<strong>como</strong>ção. Um afetado sentiu-se levado de uma viagem sem rumo de volta<br />

a seu caminho pelo acidente: "Talvez eu nunca o tivesse entendido sem o<br />

acidente". A arrogância no trato com o sexo oposto somente se tornou<br />

consciente para um paciente quando perdeu a possibili<strong>da</strong>de de exercer a<br />

sexuali<strong>da</strong>de genital. Carinhos que antes lhe pareciam banais e insignificantes<br />

ganharam uma profundi<strong>da</strong>de e um significado jamais imaginados. Em<br />

paralíticos por secção transversal <strong>da</strong> medula do sexo feminino, a dupla<br />

incapaci<strong>da</strong>de, pois há também a de apoiar seu marido, é muitas vezes o<br />

ponto principal.<br />

A lição seguinte é encarar a reali<strong>da</strong>de e aprender a aceitar o desamparo.<br />

Para pessoas que levavam antes uma vi<strong>da</strong> exagera<strong>da</strong>mente ativa e<br />

externamente movimenta<strong>da</strong>, a mu<strong>da</strong>nça de pólo para a ativi<strong>da</strong>de e o<br />

movimento internos é tão difícil <strong>como</strong> necessária. Não se deixar abater, no<br />

sentido de “não desistir, não resignar-se", é o lema de muitos afetados. Mas<br />

em um sentido mais profundo, é claro que eles precisam antes abaixar-se,<br />

voltar para o tapete, acabar com seus altos vôos, medir suas grandes<br />

pretensões pela reali<strong>da</strong>de. A vi<strong>da</strong> sedentária os força a impor-se na vi<strong>da</strong>. Na<br />

cadeira de ro<strong>da</strong>s eles, de maneira muito concreta, tomam a vi<strong>da</strong> nas próprias<br />

mãos e ro<strong>da</strong>m através dela. O acidente aguça a consciência de que a vi<strong>da</strong><br />

não dura para sempre e tem um valor considerável.<br />

É preciso reconhecer que valor tinha no passado a metade inferior do<br />

corpo e, com isso, o pólo feminino. Embora os pacientes tenham obtido muito<br />

dele, eles muitas vezes não estavam dispostos a reciprocar a consideração<br />

correspondente. Agora eles precisam ficar de castigo e dedicar-lhe to<strong>da</strong> a<br />

atenção, embora não possam esperar praticamente na<strong>da</strong> mais dele. Como<br />

sinal disso, o lado feminino pende deles <strong>como</strong> se fosse um corpo estranho. A<br />

sintomática não somente torna explicito o quanto o próprio lado feminino é<br />

estranho mas também força a dedicar-lhe atenção redobra<strong>da</strong>. Torna-se<br />

palpável que ele compõe metade <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e que sem ele a vi<strong>da</strong> é somente<br />

meia vi<strong>da</strong>.<br />

A tarefa central que se segue à aceitação do infortúnio é fazer uso do pólo<br />

superior que resta, e isso de uma posição mais humilde que antes. Os<br />

afetados aprendem a olhar para cima, já que praticamente todos superam<br />

sua altura. Sendo assim, a posição subordina<strong>da</strong> de fraqueza e a necessi<strong>da</strong>de<br />

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