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A doenca como linguagem da alma.pdf

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libera<strong>da</strong> que também pode expressar-se de maneira correspondente: terna e<br />

suave <strong>como</strong> um sussurro ou enfaticamente vocifera<strong>da</strong>.<br />

Uma voz que sempre soa alta e troante torna-se igualmente sintoma.<br />

Muitas vezes ela sobrecarrega to<strong>da</strong>s as emoções mais ternas ou até mesmo<br />

as atropela. quem é sempre um canhão e permite que as paredes retumbem<br />

com o troar dos canhões não somente desgosta o ambiente com o tempo<br />

mas está ele mesmo desgostado. O estado de animo é algo mutável e<br />

sensível; para expressá-lo de maneira condizente é necessária a<br />

consonância do momento em questão. A solução para os espíritos de canhão<br />

notórios também está em seu jeito alto e até indiscreto, engraçado e alegre.<br />

Se eles se permitissem por uma vez mergulhar inteiramente na alegria e na<br />

joviali<strong>da</strong>de, até sentir o mais íntimo de si mesmos, poderiam então voltar a<br />

relaxar e estariam abertos para novos estados de ânimo em novas situações.<br />

A voz sibilante revela um ser serpentino, com o profundo simbolismo que<br />

se aderiu a esse réptil desde os tempos bíblicos. Nisso está incluí<strong>da</strong> não<br />

apenas a falsi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> língua bifurca<strong>da</strong> mas também o sedutor. Sibilar algo<br />

para alguém, assim <strong>como</strong> a própria voz sibilante, tem algo de perigo e de<br />

conspiração. O pólo oposto é constituído por palavras abertamente<br />

articula<strong>da</strong>s e níti<strong>da</strong>s que não temem a exposição pública.<br />

A sedução também soa, ou melhor dito, roça na voz raspa<strong>da</strong>, pois sugere<br />

que seu proprietário viveu e amou excessivamente. Fumantes que estão<br />

constantemente defumando suas laringes podem freqüentemente recorrer a<br />

este registro significativo. Uma voz áspera mostra que as coisas não<br />

deslizam para fora dos lábios com facili<strong>da</strong>de, mas que a pessoa responde a<br />

uma certa resistência. Caso a voz seja áspera <strong>como</strong> um ralador, o esforço ao<br />

falar toma-se audível. A solução está em admitir realmente as resistências<br />

internas.<br />

Com uma voz estridente busca-se forçar para si a atenção e a<br />

consideração dos outros que provavelmente não seriam tão fáceis de obter<br />

com os conteúdos exteriorizados. O tocador de tambor no romance O<br />

Tambor de Lata, de Günter Grass, pode ser considerado o protótipo desse<br />

tipo. Quando to<strong>da</strong>s as cor<strong>da</strong>s se rompem e ele não consegue se impor nem<br />

mesmo com o rufo marcial do tambor, sua voz estridente faz tilintar as<br />

vidraças.<br />

Uma voz sufoca<strong>da</strong> está tingi<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que a sufoca. Lágrimas<br />

reprimi<strong>da</strong>s podem soar, assim <strong>como</strong> a raiva ou a ira. A voz abafa<strong>da</strong> sempre é<br />

em última instância a reprodução de uma aflição anímica.<br />

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