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A doenca como linguagem da alma.pdf

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epulsivo e nojento". Uma simulação torna-se visível na desfiguração. O<br />

corpo sincero evidencia algo que seu proprietário não quer admitir. O que se<br />

destaca ali é algo sujo que vem do próprio interior.<br />

Agora as pessoas têm nojo do afetado, e ele sente repulsa do outro lado.<br />

Aquilo que sempre lhe queimou os lábios e que não aflorou aos lábios devido<br />

ao decoro e a um aparente desinteresse ganha vi<strong>da</strong> não na fala, mas nas<br />

bolhas de herpes. A aparência externa é arruina<strong>da</strong> pelas bolhas ardentes que<br />

lembram a baba, a purulenta franqueza exagera<strong>da</strong> e as crostas de sujeira de<br />

uma criança. As críticas e as broncas, as palavras cáusticas, os comentários<br />

"sujos" e a franqueza ferina que foram retidos por lábios cerrados tornam-se<br />

agora sua oportuni<strong>da</strong>de. O herpes labial é a repulsa somatiza<strong>da</strong> diante dos<br />

próprios abismos. Ele é a forma corporal de to<strong>da</strong>s as sujeiras que não foram<br />

ditas. Basta pensar em beijar lábios cobertos por herpes para se ter uma<br />

idéia do quanto a temática é repugnante para a pessoa.<br />

Neste ponto surge a chance de compreender mais profun<strong>da</strong>mente o<br />

princípio do contágio. O fenômeno do contágio existe de maneira inequívoca<br />

no herpes labial, e neste caso, de maneira igualmente inequívoca, o<br />

fenômeno não tem praticamente na<strong>da</strong> a ver com o agente causador. Isso não<br />

precisa ser assim, com o herpes genital vivenciaremos <strong>como</strong> a transferência<br />

do agente físico desempenha um papel mais importante. O principio do<br />

contágio, no entanto, continua sendo o mesmo. Nós acreditamos que algo<br />

externo e contagioso entra em nós e então adoecemos. Na reali<strong>da</strong>de,<br />

somente podemos encontrar algo contagioso quando isso já se encontra em<br />

nossa <strong>alma</strong>. Na<strong>da</strong> proveniente do exterior pode nos amedrontar se não existe<br />

em nós sob a forma de padrão. No herpes labial, esse padrão já está<br />

disponível não apenas na consciência mas também fisicamente. Neste<br />

sentido, o contágio físico não desempenha qualquer papel aqui, somente o<br />

anímico é decisivo. Ambivalência, repugnância e medo do contágio, ao<br />

embaralhar o equilíbrio anímico, podem fazer com que os vírus mantidos sob<br />

controle no corpo percam o controle. Os vírus mais pérfidos não podem<br />

tornar-se perigosos sem ser ativados pelo padrão interno. A vi<strong>da</strong> e a<br />

ativi<strong>da</strong>de de médicos famosos que tratavam de epidemias, tais <strong>como</strong><br />

Nostra<strong>da</strong>mus, o corroboram. Eles não tinham medo, ao contrário, sentiam-se<br />

internamente conciliados com o sintoma, e assim nem os agentes mais<br />

ameaçadores podiam lhes fazer mal algum.<br />

Em se tratando de herpes, o perigo de cair em um círculo vicioso está<br />

especialmente próximo quando as valorações substituem as interpretações.<br />

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