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A doenca como linguagem da alma.pdf

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não se pode mais trazer o mundo a si nem participar de ativi<strong>da</strong>des normais.<br />

A pessoa está incapacita<strong>da</strong> para agir. Caso o braço direito seja afetado, não<br />

se pode nem mesmo assinar o próprio nome e é preciso resignar-se, o que é<br />

o mesmo que retirar a própria assinatura <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Em algumas culturas<br />

antigas, quebrava-se ou amputava-se o braço dos ladrões. Dessa maneira,<br />

eles eram total ou temporariamente forçados a abdicar de seu ofício. Os<br />

ladrões designam a invasão de uma casa <strong>como</strong> "quebrar", em economia uma<br />

quebra é algo igualmente fatal, dá na mesma se alguém é roubado direta ou<br />

indiretamente através <strong>da</strong> quebra <strong>da</strong>s cotações. Sempre, trata-se de uma<br />

continui<strong>da</strong>de até então confiável que se rompe abrupta e dolorosamente.<br />

Nas fraturas, a tarefa a ser aprendi<strong>da</strong> consiste em interromper<br />

conscientemente o padrão de vi<strong>da</strong> empreendido. Com o veredicto de<br />

"incapacitado para agir", o sintoma estabelece a moldura externa. O braço<br />

que cai fora é significativo: o direito, com o qual abrimos caminho, ou o que<br />

pede, o esquerdo. Ao mergulhar no repouso receitado, devem resultar<br />

indicações de <strong>como</strong> no futuro a alternância poderia introduzir-se na vi<strong>da</strong> sob<br />

a forma de tensão e relaxamento. A evolução do acontecimento que levou á<br />

fratura representa a lição a ser aprendi<strong>da</strong> sob a forma física, não libera<strong>da</strong>.<br />

Um movimento inusual ou exagerado em sua extensão eleva a tensão de<br />

forma dramática até que o relaxamento volta a estabelecer-se quando o osso<br />

cede. Tais acontecimentos são igualmente pensáveis e concretamente têm<br />

mais lógica em sentido figurado.<br />

À parte os desvios <strong>da</strong> lei <strong>da</strong>s alavancas, o grosso <strong>da</strong>s fraturas de braço<br />

ocorrem devido a que<strong>da</strong>s. Estas compõem em geral a maior parte dos<br />

acidentes. A que<strong>da</strong> nos põe em contato com uma problemática humana<br />

primordial: a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de paradisíaca na polari<strong>da</strong>de. Outras culturas<br />

utilizam outras imagens, mas nenhuma escapa desse padrão primordial <strong>da</strong><br />

rejeição de seu criador por parte do homem e de sua que<strong>da</strong> final. Na<br />

Antigui<strong>da</strong>de, a hybris, a rebelião do homem contra Deus, era considera<strong>da</strong> o<br />

único pecado. O homem precisava assumi-la caso quisesse percorrer o<br />

caminho do desenvolvimento. O exemplo de Prometeu mostra a fase <strong>da</strong><br />

rejeição de forma explicita quando traz o fogo aos homens, contrariando a<br />

ordem dos deuses. Ele cai fundo depois disso, e a punição que tem de<br />

suportar até sua liberação é drástica.<br />

O simbolismo é semelhante quando quebramos nossos ossos, quando o<br />

plano corporal torna-se incapacitado para tentativas de rejeição. Nós<br />

exageramos algo e contrariamos as leis de nossa natureza. Segue-se a<br />

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