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A doenca como linguagem da alma.pdf

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servir ritualmente à deusa Justiça? Tal <strong>como</strong> os sacerdotes, o juiz exerce seu<br />

cargo sem levar em consideração sua própria pessoa ou a do acusado.<br />

Enquanto ocupa seu cargo, só está submetido às regras do ritual <strong>da</strong> justiça e<br />

deixa de ser uma pessoa individual particular com opiniões próprias até o<br />

final do julgamento. Caso não consiga isso, estando comprometido com<br />

outras coisas que não exclusivamente os livros <strong>da</strong> lei, ele é recusado por ser<br />

parcial.<br />

O fechamento de um contrato, o reconhecimento consciente dos fatos<br />

através <strong>da</strong> assinatura do próprio punho, preenche os critérios de um ritual.<br />

Precisamente, não é possível <strong>da</strong>tilografar ou carimbar o nome na folha de<br />

papel, ain<strong>da</strong> que assim ele fosse mais legível. Nos acordos políticos, a<br />

celebração <strong>da</strong> ratificação <strong>como</strong> ritual de reconhecimento chama<br />

especialmente a atenção. As relações usuais entre as pessoas também<br />

estão submeti<strong>da</strong>s a regras rituais que têm pouco sentido se considera<strong>da</strong>s do<br />

ponto de vista funcional. Por que, ao cumprimentar alguém, se dá justamente<br />

a mão direita aberta e não o punho esquerdo fechado? Nossa vi<strong>da</strong> está<br />

determina<strong>da</strong> por símbolos e sinais, <strong>da</strong>s cores <strong>da</strong>s roupas até os sinais de<br />

trânsito. Todos os procedimentos rituais desse tipo somente subsistem<br />

porque são reconhecidos e seguidos. Regras e sinais de trânsito não têm<br />

qualquer sentido em si mesmos mas, respeitados por todos, regulamentam<br />

as mais difíceis situações. Rituais não são lógicos, mas simbólicos. eles são<br />

o padrão operante. Sem eles, a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de seria impossível.<br />

O problema está em que rituais inconscientes não funcionam tão bem<br />

quanto aqueles que são conscientes, e na socie<strong>da</strong>de industrial moderna<br />

predomina uma forte tendência à inconsciência. De maneira ca<strong>da</strong> vez mais<br />

duradoura, o significado dos rituais perde seu embasamento na consciência<br />

e mergulha na sombra. Na superfície social, as formas esvazia<strong>da</strong>s de sentido<br />

degeneram em costumes. Estes são manifestamente persistentes devido ao<br />

fato de terem suas raízes profun<strong>da</strong>s no padrão que um dia foi consciente.<br />

Ain<strong>da</strong> que o sentido original tenha sido esquecido há muito, os costumes<br />

subsistem e continuam <strong>da</strong>ndo à socie<strong>da</strong>de uma moldura. As tentativas de<br />

eliminá-los através de reformas muitas vezes naufragam devido a seu<br />

profundo enraizamento. Por muito brio que os revolucionários franceses de<br />

1789 tenham posto na tentativa de transformar a semana de 7 dias em um<br />

ritmo decimal mais lógico e produtivo, o ritmo setenário estava<br />

profun<strong>da</strong>mente enraizado na reali<strong>da</strong>de e sobreviveu à Revolução.<br />

Até mesmo quando não conhecemos mais as raízes, continuando ain<strong>da</strong><br />

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