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A doenca como linguagem da alma.pdf

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transformado em sabedoria. Então as crianças e os anciães, vindo de dois<br />

lados, encontram-se no mesmo plano.<br />

372<br />

7. Da ampla visão <strong>da</strong> velhice às rugas<br />

Esses "sinais normais <strong>da</strong> velhice" estão tão difundidos que mal vemos<br />

algo de doente neles. Com a presbiopia, o organismo mostra que se está<br />

deixando de ver o que está próximo. O olhar passa por cima disso e vagueia<br />

na distância. A tarefa é: obter uma visão de conjunto e enxergar longe em<br />

sentido figurado. O horizonte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> permanece nítido e é até mesmo<br />

acentuado pela confusão do que está próximo. É importante vaguear na<br />

distância e ter claro para si o que o futuro reserva. Aquilo que está próximo<br />

deve ir para trás <strong>da</strong> visão ampla. Quando se encontra a perspectiva <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

é possível voltar a alcançar aquilo que está perto.<br />

A per<strong>da</strong> <strong>da</strong> memória recente deve ser entendi<strong>da</strong> de forma totalmente<br />

análoga. Enquanto os acontecimentos <strong>da</strong> última guerra são lembrados e<br />

surgem claros diante <strong>da</strong> visão interna, o passado imediato se esfuma na<br />

névoa do esquecimento, por exemplo aquilo justamente que se queria<br />

comprar. Aqui também a tarefa é níti<strong>da</strong>, libertar-se <strong>da</strong>s ninharias do cotidiano<br />

e descobrir de preferência o grande arco <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A monotonia diária deve se<br />

tornar monótona, é preciso lembrar-se dos temas importantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e<br />

interiorizá-los. Caso se faça esse trabalho espiritual, volta a surgir espaço<br />

para aquilo que está próximo, isso para não falar que a ativi<strong>da</strong>de espiritual<br />

conserva a mobili<strong>da</strong>de e uma memória treina<strong>da</strong> permanece intacta.<br />

A surdez <strong>da</strong> velhice mostra aos afetados que eles não podem mais ouvir<br />

determina<strong>da</strong>s coisas. É natural suspeitar que eles já as ouviram demasia<strong>da</strong>s<br />

vezes e agora desligaram. Chama a atenção nesse contexto o fato de que a<br />

maior parte <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des de audição <strong>da</strong> velhice mostra uma discrepância<br />

característica: há muita coisa que eles absolutamente não ouvem mais, mas<br />

outras, contra as expectativas, são ouvi<strong>da</strong>s, e bem. Quem conhece pessoas<br />

velhas que ouvem mal, às vezes não pode evitar a sensação de que há nisso<br />

uma certa dose de trapaça. Enquanto o companheiro que está no mesmo<br />

quarto pode arrancar a <strong>alma</strong> do corpo a gritos, as conversas <strong>da</strong>s crianças no<br />

quarto ao lado, mais interessantes, são boas de ouvir. Esse sintoma,<br />

portanto, é também uma forma não-redimi<strong>da</strong> de retira<strong>da</strong> para o mundo

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